quarta-feira, 15 de junho de 2016

Equipe de pesquisadores desenvolveu modelo doméstico de Aquaponia

A técnica é um sistema integrado de produção de peixes e vegetais.
Não polui o meio ambiente, é econômica e está chegando agora ao Brasil.

Sistema de aquaponia. Foto: negociosdaterra.com.br.
São Paulo (SP) - Aquaponia é um sistema de cultivo recém-chegado ao Brasil, mas já usado em países com pouca disponibilidade de água doce, invernos rigorosos ou que tenham interesse em agricultura urbana.

Os peixes sujam a água para as plantas que, por sua vez, limpam a água para os peixes.
Esse é o funcionamento básico da Aquaponia - a produção integrada de peixes e vegetais em sistema de recirculação de água.

Aqui no Brasil, a Aquaponia ainda engatinha, mas tem despertado o interesse de instituições de pesquisa e produtores, que estão trabalhando para adaptar os modelos trazidos de fora para as nossas condições. É o caso da APTA - a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios.

No polo regional de Ribeirão Preto, o zootecnista Fernando André Salles e sua equipe desenvolveram um modelo doméstico de Aquaponia, que integra a produção de hortaliças folhosas, plantas aromáticas e medicinais com a criação de uma variedade do peixe lambari - o lambari rosa: "É uma espécie nativa, de ciclo curto - em cerca de 90 dias, ele já atinge o tamanho comercial - e é uma espécie de alto valor comercial. Por quilograma de peso vivo, ele é bem mais caro que a tilápia. Provavelmente, é a espécie mais cultivada em aquaponia".

O termo aquaponia nada mais é do que uma junção da palavra aquicultura - que é a criação de organismos aquáticos que tenham na água seu ciclo de vida parcial ou total (peixes, camarões, ostras, algas, jacarés, entre outros) - com hidroponia, que é o cultivo de vegetais na água. Existem várias configurações possíveis para montar um sistema de Aquaponia, mas em comum, todos têm três elementos: um tanque para criação dos peixes, um lugar para filtrar a água e um outro para plantar as mudas.

No modelo desenvolvido pela APTA, o tanque deve ter capacidade mínima para 500 litros de água e ser, de preferência, redondo: "É importante que a água entre tangencialmente em relação à parede do tanque, de modo a fornecer uma pequena corrente. Por que é importante essa hidrodinâmica? Para que aqueles dejetos que o peixe produz sejam carreados para fora do tanque", explica Fernando.

Com ajuda da gravidade, a água com os dejetos desce para um outro tanque - posicionado em um nível mais baixo do que o tanque dos peixes - onde uma bomba joga tudo para o filtro: um compartimento cheio de pedra, cascalho... "E no nosso caso, a argila expandida, que nada mais é do que um pedacinho de argila, cozido em alta temperatura".

Doutor Fernando explica que ocorrem dois tipos de filtragem: uma mecânica - pois tudo o que é sólido fica retido no compartimento - e uma biológica. Nesse ambiente, cheio de matéria orgânica, oxigênio e umidade, bactérias presentes na natureza se desenvolvem e recobrem toda a superfície da argila. Essas bactérias vão transformar a amônia tóxica, excretada pelos peixes, em nitrito e depois nitrato, que é uma substância altamente absorvida pelas plantas. "Essa amônia, se você permitir que ela se acumule no sistema, ela se torna tóxica para o peixe, podendo ocorrer o envenenamento do peixe".

Assim como na hidroponia convencional, as mudas podem ser cultivadas em sistema de calha, em placas de isopor flutuantes ou na argila do próprio filtro: "Você tem filtragem e manutenção das plantas, num ambiente único. Tanto que esse é o sistema que nós estamos recomendando, para quem quer fazer uma pequena Aquaponia caseira".

Os pesquisadores da APTA estão trabalhando com uma densidade baixa de peixes: 10 Kg por metro cúbico de tanque. "Justamente pra fazer o aproveitamento integral dos dejetos".
Para calcular a área das hortaliças, Fernando explica como é feita a conta: "Para cada metro quadrado de canteiro de hortaliças, nós necessitamos de 15g a 30g de ração por dia".

A água leva cerca de uma hora para percorrer todo o sistema e voltar para o tanque. Só é preciso repor uma ou outra perda por evaporação.

Essa economia de água é a grande vantagem da Aquaponia, mas não a única: "É uma das poucas formas de produção animal, no caso o pescado, em que não há geração de efluentes, porque esses efluentes que são os dejetos do peixe, serão aproveitados pela planta".

Além disso, toda a produção de hortaliças é livre de agrotóxicos. Esses produtos, usados no controle de pragas e doenças, podem matar os peixes. Essa característica do sistema é também um dos desafios dos pesquisadores, que buscam agora desenvolver um modelo de Aquaponia para produção em escala comercial: "O primeiro desafio: conseguir equacionar essa produção dos nutrientes que se dá pelos peixes e o consumo dos nutrientes pelas plantas; um segundo desafio: é necessário estudar a parte de controle biológico, de medidas que evitem que os problemas se instalem na Aquaponia. No modelo doméstico, você consegue lidar com um nível de dano, por exemplo, por inseto, ou de deficiência nutricional que é aceitável. Agora, no comercial as exigências são um pouco maiores".

Uma Aquaponia caseira, com 2m² de canteiro, um tanque de 500 litros e uma bomba, custa aproximadamente R$ 600. Isso para quem for comprar tudo novo. A Apasian, Associação dos Pescadores Amadores de Santa Isabel, também em São Paulo, gastou bem menos para montar uma Aquaponia no fundo da casa do seu Jair Ferreira, membro da associação: "Todo o material que a gente está usando aqui, é material que seria descartado por outras pessoas e a gente acabou utilizando. Eu precisei comprar duas bombinhas, eu gastei na faixa de uns R$ 250 a R$ 300, no máximo.

São três tanques de mil litros com tilápia, uma banheira para decantação dos dejetos, um filtro, e 6m² de alface cultivada em sistema de calha.

Faz dois anos que seu Jair toca essa aquaponia sem nenhum tipo de assistência. Nesse período, ele inventou muita coisa para lidar com os problemas que foram aparecendo: por exemplo, colocou aguapé no tanque, para diminuir a quantidade de amônia na água. Passou a cultivar uma plantinha chamada Lemna, pra dar aos peixes e economizar ração. Colocou pedaços de ferro no fundo filtro. "A gente usou o vergalhão e a gente conseguiu resolver em 90% essa falta de ferro na verdura".

Manejo básico aqui é alimentar os peixes três vezes por dia, ficar de olho na temperatura - já que a tilápia come menos no frio - e fazer análise da água de duas a três vezes por semana: "Tem que monitorar, senão você não consegue o sistema".

Seu Jair já acumulou muito conhecimento e age rápido em qualquer problema que possa ser encontrado no monitoramento. Se o PH começa a subir, ele joga vinagre. Se a amônia está muito alta, joga gesso. Se o nitrito está alto, joga cal.

Além do custo da ração, a associação gasta cerca de R$ 40 por mês com energia elétrica para manter o sistema. Quando perguntado sobre o lucro, seu Jair explica: "Pouquinho. Porque, como é um sistema pequeno, a nossa produção de pescado também é pequena, a gente tem na faixa de 25kg de peixe por caixa d’água. Consegue aí, quando a gente tem uma boa venda, uns R$ 200, R$ 300 de lucro por mês".

Mas, ainda que o lucro seja pequeno, seu Jair diz estar satisfeito: "Eu posso falar, de peito aberto, que eu to animado com a Aquaponia. Porque pelo menos um sustento para minha família, eu consigo tirar da Aquaponia".

Desde que o peixe se adapte bem ao ambiente de cultivo e, principalmente ao clima da região, qualquer espécie pode ser criada na aquaponia. E não precisa ser peixe. Há experiências bem sucedidas com criação de rã ou camarão, por exemplo.

2 comentários:

  1. Li a reportagem e achei interessante, pois tenho uma pequena propriedade e gostaria muito de implementar algo deste tipo. vanbicalho@gmail.com

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  2. achei interessante, pois tenho uma pequena propriedade e gostaria muito de implementar algo deste tipo.

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