terça-feira, 18 de setembro de 2018

Estudo disponibiliza boas práticas em aquaponia

Produção de hortaliças com utilização da aquaponia. - Foto: Julio Queiroz.

A aquaponia – integração da aquicultura com a hidroponia – se consolida como uma importante atividade para o agronegócio. Como o sistema tem por base a reciclagem da água, ele minimiza a geração de efluentes ricos em nutrientes e evita, assim, a eutrofização dos corpos d’água.

Embora apresente várias vantagens com relação aos métodos tradicionais, ainda é preciso superar vários gargalos tecnológicos relacionados à sua implantação e funcionamento. Também é necessário aprimorar o entendimento dos processos físicos, químicos e microbiológicos para tratamento, manutenção e monitoramento da qualidade da água, da sanidade dos peixes e das plantas.

Nesse sentido, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Symbiotec Ltda., indicam um conjunto de Boas Práticas de Manejo (BPM), que podem ser aplicadas à produção em múltiplas escalas, assim como em regiões com restrições de água, áreas rurais e periurbanas (Série Documentos, completa aqui.)

O objetivo é promover o aprimoramento do manejo e dos índices de produtividade e sustentabilidade de forma contínua, com base em indicadores de desempenho zootécnico, fitotécnico e econômico.

Entre esses índices, estão a necessidade de manutenção – fator determinante para o sucesso da produção – além da suplementação nutricional para os vegetais cultivados, composição da ração, temperatura e demais parâmetros de qualidade da água.

Conforme o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Julio Queiroz, o indicador econômico é muito importante. "Deve-se observar os valores de mercado praticados, assim como o valor agregado pelo sistema aquapônico. Isso é valido para cada produto de origem animal e vegetal nas suas diferentes fases, como a venda de alevinos ou juvenis de peixes, e, sobretudo de produtos vegetais diferenciados como o baby leaf -  hortaliças como alface, agrião e rúcula, entre outras espécies, com folhas ainda não expandidas completamente e colhidas precocemente e microgreens – micro vegetais comestíveis – hortaliças, ervas aromáticas e legumes, que são surpreendentes em termos de sabor e fazem bem à saúde, já que os pequenos vegetais apresentam de quatro a 40 vezes mais nutrientes do que na sua fase final".

Queiroz explica que uma das primeiras providências é avaliar a eficiência dos filtros, com um teste rápido para determinar a concentração de amônia, nitrito e nitrato na água. "A amônia é o principal resíduo do metabolismo dos peixes e da degradação das rações. O seu acúmulo resulta na redução da produção, no aumento do estresse dos peixes e, consequentemente, no aumento da ocorrência de doenças", diz o pesquisador.

Também é necessário analisar a cada 15 dias os compostos nitrogenados – amônia, nitrito e nitrato, e instalar, na medida do possível, sensores de temperatura, pH e oxigênio dissolvido para monitoramento de forma contínua. Se a concentração de nitrato estiver elevada por semanas consecutivas, uma parte da água deverá ser substituída por água limpa.

O conhecimento do potencial do efluente gerado pelos peixes, em relação à concentração de nutrientes exigidos pelas hortaliças, é essencial. A determinação ou o conhecimento da digestibilidade da ração pode facilitar a estimativa da densidade de peixes mais adequada, o que também permite determinar o valor nutricional de dietas, ingredientes dietéticos e quantificar o volume de fezes.

Outros pontos importantes são a estimativa da biomassa inicial de peixes em função da quantidade máxima de plantas que poderá ser cultivada, e a realização de biometria a cada 30 dias com cerca de 5% dos peixes.

Os critérios adotados, atualmente, pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) definem que o animal precisa estar sadio, seguro, saudável, confortável, livre para expressar comportamentos naturais e sem sentimentos negativos. Segundo o Mapa, é necessário estar atento às questões éticas dos consumidores, demonstrando a importância da inclusão do bem-estar dos animais.

Um dos aspectos primordiais para nortear o desenvolvimento das BPM deve assegurar um número satisfatório de plantas com padrão mínimo de tamanho, peso e coloração exigido pelo mercado, ou seja, a quantidade de plantas produzidas não deve ser o fator determinante para definir a eficiência de um determinado sistema de hidroponia, mas sim a quantidade de plantas com valor de mercado. Além disso, deve-se observar o tempo gasto para as plantas alcançarem o tamanho comercial e, ainda, a ausência de ocorrência de doenças.

Considerando que nos sistemas de aquaponia a utilização de solução nutritiva é limitada a suplementações pontuais, a adição de pesticidas ou fungicidas químicos não poderá ser feita, de modo que os métodos alternativos devem ser utilizados para controle de doenças.

É preciso transferir esses conhecimentos por meio da metodologia fazendo e acompanhando a evolução do sistema, continua o pesquisador, "dessa forma os produtores estarão aptos a construir e reproduzí-los. Isso pode ser feito por meio de cursos, dias de campo e workshops, abordando os aspectos teóricos e práticos sobre montagem, instalação, manejo e manutenção, e procedimentos para otimizar os índices de produtividade e rentabilidade; aspectos conceituais sobre manejo produtivo e manutenção da qualidade da água; e BPM sobre prevenção de doenças de peixes e das plantas, requisitos mínimos para escolha do local, definição de escala de produção, conceitos fundamentais sobre os sistemas de recirculação, construção e uso dos filtros de decantação e biológicos, controle e manejo alimentar, além de criar oportunidades para trocas de experiências com aqueles que já atuam nesse segmento", explica Queiroz.

Boas práticas de manejo para sistemas de aquaponia é de autoria de Julio Queiroz, Alfredo Luiz, Márcia Ishikawa e Rosa Frighetto (Embrapa Meio Ambiente) e Thiago Freato da Symbiotec Ltda.

Fonte: www.embrapa.br.

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