domingo, 9 de abril de 2017

Peixes contaminados por mercúrio: ameaça ao ambiente e à saúde


De onde vem a contaminação por mercúrio nos ambientes aquáticos?


O mercúrio (Hg) é um metal naturalmente encontrado no ar, no solo e na água. Mas, atualmente, os valores de mercúrio no ambiente extrapolam os padrões de normalidade devido à atividades antropogênicas (causadas pelo homem).
Segundo o National Resources Defense Council (NRDC), as maiores fontes mundiais de contaminação ambiental por mercúrio são a queima de carvão mineral por termelétricas e as atividades de mineração.
Mercúrio
O mercúrio ocorre em estado líquido em temperatura ambiente, porém, quando a temperatura aumenta, ele é facilmente volatizado para a atmosfera na forma de vapor de mercúrio.
Um vez na atmosfera, o vapor de mercúrio pode ser depositado ou convertido em forma solúvel e incorporado ao ciclo da chuva. Quando solúvel, pode ser volatizado novamente e retornar à atmosfera, ou pode permanecer no meio aquático, onde será transformado em metilmercúrio [CH₃Hg]⁺ por micro-organismos presentes no sedimentos do ambiente aquático.
O metilmercúrio contamina toda a cadeia alimentar, desde o fitoplâncton até os peixes carnívoros. Por ter um longo tempo de permanência, o metilmercúrio se mantém incorporado ao tecido do organismo, após ingerido. Dessa forma, a concentração de mercúrio vai se tornando cada vez mais alta dentro da cadeia alimentar à medida em que os organismos se alimentam de outros que já apresentam o mercúrio acumulado em seus tecidos. Este processo é denominado bioacumulação.
Por tal motivo, os peixes carnívoros de topo de cadeia apresentam as concentrações mais elevadas de metilmercúrio. Ao incorporarmos esses peixes contaminados à nossa dieta, estamos nos incluindo neste processo e ingerindo altas concentrações de mercúrio.
Principais fontes antropogênicas de mercúrio no Brasil
O Ministério do Meio Ambiente aponta em relatório que existe uma carência de dados referentes às concentrações atmosféricas de mercúrio. Mas aponta a mineração do ouro e as queimadas de grandes áreas florestais como as principais emissões de mercúrio do país.
Segundo o relatório do Ministério de Minas e Energia, atualmente a produção do ouro tem se dado principalmente nos estados de Minas Gerais, Pará, Bahia e Mato Grosso, respectivamente.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, outras formas de exposição frequentes no país estão relacionadas às atividades de fabricação de cloro-soda, fabricação e reciclagem de lâmpadas fluorescentes, fabricação de termômetros, fabricação de pilhas e de material odontológico.
Intoxicação por mercúrio
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), existe uma relação direta entre as altas concentrações de mercúrio no sangue humano e o consumo de peixe contaminado por metilmercúrio
De acordo com o Diagnóstico Preliminar sobre o Mercúrio do Brasil, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, 90% de todo o mercúrio presente em organismos de nível trófico alto (predadores do topo de cadeia alimentar) se encontra na forma de metilmercúrio.
O metilmercúrio [CH₃Hg]⁺ é considerado uma das formas mais nocivas do mercúrio ao organismo humano. É uma neurotoxina capaz de atravessar as barreiras placentária e hematoencefálica, afetando negativamente o cérebro em desenvolvimento. Por isso, mulheres em fase gestacional devem ter um cuidado ainda maior referente ao consumo de peixe possivelmente contaminado por mercúrio.
A exposição de mulheres grávidas ao metilmercúrio [CH₃Hg]⁺ pode provocar danos ao sistema nervoso dos bebês e causar deficiências de aprendizado e cognição na infância. Além disso, o Instituto Nacional de Câncer classifica o metilmercúrio como uma substância com possível efeito cancerígeno.
A intoxicação humana por mercúrio é um problema de saúde pública que afeta principalmente as populações ribeirinhas, que têm o peixe como base da dieta alimentar. Mesmo assim, o assunto deve receber a atenção de todos aqueles que consomem peixe regularmente.
Para a segurança do consumidor, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) possui uma portaria na qual estabelece que a concentração máxima de mercúrio não deve ultrapassar 1mg/kg em peixes predadores e 0,5mg/kg em peixes não predadores. Quando estes valores são ultrapassados, o lote de peixes é apreendido.
No entanto, essa iniciativa não tem impacto para reduzir os riscos aos quais as populações ribeirinhas estão expostas, nem para reduzir os danos ambientais causados pela contaminação. Para este caso, seria necessário atuar diretamente na redução das fontes de emissão de mercúrio.

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