Tubarões-da-Groenlândia são as criaturas vertebradas mais longevas do planeta, afirmam cientistas.
Por: Rebecca Morelle (BBC News)
Pesquisadores usaram datação por radiocarbono para determinar as idades de 28 desses animais, e estimaram que uma fêmea morta recentemente tivesse cerca de 400 anos.
A equipe descobriu que esses tubarões crescem apenas 1 cm por ano, e alcançam a maturidade sexual aos 150 anos.
A pesquisa foi publicada na revista científica Science.
O principal autor, Julius Nielsen, biólogo marinho na Universidade de Copenhague, afirmou: "Sabíamos que estávamos lidando com um animal incomum, mas acho que todos na equipe ficaram muito surpresos de saber que são tão velhos."
O vertebrado que detinha o recorde de longevidade era uma baleia-da-Groenlândia (Balaena mysticetus) com idade estimada de 211 anos.
Se invertebrados entrassem nessa competição, o título ficaria com um molusco de 507 anos conhecido como Ming, que teria vivido de 1499 a 2006.
Nado lento
O tubarão-da-Groenlândia (Somniosus microcephalus) é uma enorme criatura, que pode chegar a cinco metros de comprimento.
Eles podem ser encontrados, nadando lentamente, em águas geladas e profundas do Atlântico Norte.
Com ritmo vagaroso de vida e taxa lenta de crescimento, era esperado que esses tubarões vivessem por um longo tempo. Mas até agora era difícil determinar qualquer idade.
No caso de alguns peixes, cientistas conseguem examinar ossos do ouvido chamados otólitos, que quando seccionados revelam um padrão de anéis concêntricos que podem ser contados como os anéis das árvores.
Com tubarões essa tarefa é mais difícil, mas algumas espécies, como o grande tubarão-branco, têm um tecido calcificado que cresce em camadas em suas espinhas e pode ser usado para datar os animais.
"Mas o tubarão-da-Groenlândia é um tubarão muito, muito macio - não tem partes rígidas no corpo onde camadas de crescimento se acumulam. Então acreditava-se que a idade não pudesse ser investigada", afirmou Nielsen à BBC.
A equipe, contudo, encontrou uma maneira inteligente de desvendar esse mistério.
"A retina do tubarão-da-Groenlândia é feita de um material especializado - e contém proteínas que são metabolicamente inertes", explicou Neilson.
"O que significa que depois que as proteínas são sintetizadas no organismo, elas não são renovadas novamente. Então podemos isolar esse tecido formado quando o tubarão era um bebê, e fazer a datação por radiocarbono."
A equipe analisou 28 tubarões, a maioria morta após ficar presa em redes de pesca.
Usando essa técnica, os pesquisadores estabeleceram que o maior tubarão - uma fêmea de cinco metros - era extremamente idosa.
Como a datação por radiocarbono não gera datas exatas, eles acreditam que essa fêmea possa ter morrido tão "jovem" como aos 272 anos ou tido 512 anos. Mas provavelmente ficou em algum lugar no meio, em cerca de 400 anos.
Isso significa que esse tubarão fêmea nasceu em algum ponto entre os anos de 1501 e 1744, mas a data provável foi no século 17.
"Até no limite inferior, 272 anos, mesmo se essa fosse a idade máxima, ainda seria o vertebrado mais longevo do planeta", disse Nielsen.
Aulas de conservação
A equipe do estudo acredita que esses tubarões apenas atinjam a maturidade sexual com quatro metros de comprimento. E esse novo e amplo escopo de idade sugere que isso não deva ocorrer até os animais atingirem cerca de 150 anos.
Os pesquisadores dizem que os achados trarão consequências para a preservação futura desses animais.
Como são muito velhos, os tubarões-da-Groenlândia ainda podem estar se recuperando de um período de pesca excessiva após a Segunda Guerra Mundial.
Os fígados dos tubarões eram usados para óleo de máquinas, e eles foram caçados em grande escala até o desenvolvimento de uma alternativa sintética reduzir a demanda pelo animal.
"Quando você avalia a distribuição da espécie pelo Atlântico Norte, é bem raro ver fêmeas em idade reprodutiva, e mais raro ainda encontrar recém-nascidos ou indivíduos juvenis", afirmou Nielsen.
"Parece que a maioria é subadulta. E isso faz sentido: se você teve toda essa pressão de pesca, todos os animais mais velhos não estão mais por aqui. E não há muitos indivíduos aptos a reproduzir. Ainda existe, porém, uma boa quantidade de 'adolescentes', mas ainda levará mais cem anos para se tornarem ativos sexualmente."
Fonte: www.bbc.com.
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