A produção de camarão, de forma convencional, é amplamente conhecida em todo o Brasil. O Laboratório de Carcinocultura, do Instituto de Oceanografia (IO) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), desenvolveu, todavia, um novo modelo de produção, o sistema de Bioflocos. Com o sistema, é possível aumentar em até 60 vezes a produtividade e de forma mais sustentável. A transmissão desse conhecimento para produtores de camarão e representantes da cadeia produtiva nortea o 9º Curso de Produção de Camarão em Sistemas de Bioflocos, que iniciou na terça-feira (12/04) e se estende até hoje (14/04), na Estação Marinha de Aquacultura (EMA/FURG) no Cassino.
O curso reúne em média 40 participantes oriundos de diversos estados brasileiros e também de países da América Latina e dos Estados Unidos, todos com o objetivo de conhecer o funcionamento do sistema e poder aplicá-los em suas regiões. A atividade busca apresentar os fatores que envolvem a produção com Bioflocos, para que possa ser entendida e o sistema ser desenvolvido pelos participantes nos diversos contextos que estão inseridos. “O curso não apresenta uma receita fechada, mas sim os detalhes do sistema, pois a mudança de uma variável, por exemplo, altera o restante do processo”, explica o professor Wilson Wasielesky.
O sistema de Bioflocos é pioneiro no país e foco de pesquisa desde 2005 na Universidade. Hoje, a FURG é referência no sistema, com uma estrutura de cultivo única no país. O sistema consiste, de forma geral, num processo de transformação dos compostos nitrogenados, antes tóxicos aos camarões, em proteína microbiana, que serve de alimento para o animal. “O que antes era veneno, agora vira alimento”, destaca o professor Dariano Krummenauer.
Na produção convencional em viveiros, o ração que não é consumida pelos camarões, junto com os excretos, se degrada, deixa a água tóxica e com alta concentração de amônia. De acordo com o professor, é necessário, neste caso, realizar a troca da água, que é um processo de custo elevado e que causa impacto ao meio ambiente. Já no sistema de Bioflocos, Krummenauer explica que com a manipulação das relações carbono/nitrogênio, é possível transformar os compostos nitrogenados, que estavam em níveis impróprios para os camarões, em proteína, que será consumido como alimento pelo animal. Por consequência, é possível aumentar a produção por hectare. No sistema convencional a densidade é baixa, com uma média de uma tonelada de camarão por hectare. Já com Bioflocos, a densidade aumenta com o crescimento da estocagem para 60 toneladas por hectare. “Com o Bioflocos, o camarão tem uma condição boa de sobrevivência, já que ele tem alimento e conforto, mesmo vivendo em um espaço pequeno”, completa. No que tange as questões de impacto ambiental, o processo é considerado sustentável, já que não necessita de troca de água e com isso, não apresenta emissão de efluentes ao meio ambiente.
No primeiro dia do curso, os participantes foram recebidos na Estação com a apresentação inicial do sistema e breve contextualização regional. Foi realizada também uma visita introdutória às estufas de produção. No decorrer do curso, foram proferidas aulas teóricas e práticas. Para o zooctenista e gerente de exportação de uma empresa de Campinas de ração animal, Diogo Villaça, o curso abre novos horizontes e possibilita novas formas de produção da espécie. “Esse é o meu primeiro contato com o sistema e busco levar conhecimento para ajudar a desenvolver o mercado na América Latina”, diz.
As informações apresentadas no curso, que é promovido semestralmente pela FURG, são resultados dos estudos desenvolvidos ao longo desse período pela Universidade. “Nosso conteúdo é exclusivo e foi construído com base nas pesquisas desenvolvidas aqui. Então, os resultados são sólidos e os participantes poderão iniciar a implementação do sistema em suas regiões”, explica Krummenauer.
Por: Carolina Silveira - imprensa@furg.br.
Fonte: www.furg.br.
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