A franciselose é uma doença infecciosa causada pela bactéria Gram-negativa Francisella noatunensis. Esta espécie é dividida em duas subespécies, sendo elas: Fracisella noatunensis subsp. noatunensis que infecta peixes de águas temperadas e Francisella noatunensis subsp. orientalis (sinônimo de Francisella asiatica) que acomete peixes tropicais, como a tilápia do Nilo. Esta bactéria é um agente intracelular facultativo que infecta principalmente os macrófagos dos peixes, sendo responsável por causar uma doença granulomatosa que acomete principalmente órgãos como baço, rins e fígado, similar a piscirickettsiose em salmonídeos e photobacteriose em bijupirá. Contudo, a doença em estágio avançado se torna sistêmica, envolvendo vários outros órgãos tais como intestinos, coração, gônadas, brânquias, olho e cérebro, podendo causar surtos de mortalidade que alcançam entre 60 a 100% de fatalidade em animais que constituem os principais grupos de riscos, sendo os alevinos e juvenis no período de inverno.
O principal fator de risco para esta enfermidade é a temperatura da água. Dessa forma, condições de baixa temperatura favorecem sua rápida proliferação, geralmente, os grandes surtos ocorrem em faixas de temperatura entre 24 a 18 ºC. Outro fator de risco importante é a idade dos peixes, uma vez que esta doença possui maior impacto sobre as formas jovens, incluindo larvas, alevinos e juvenis. Durante o outono, inverno e início de primavera constituem os períodos de maior ocorrência desta doença. Ocasionalmente peixes em fase de crescimento, acima de 500 g, podem ser afetados por Francisella.
No Brasil, a franciselose vem causando surtos em diferentes polos de criação de tilápia há pelo menos 4 anos. As regiões sudeste e sul são as que registraram maior número de surtos, contudo, a cada ano a doença continua se expandido no território nacional, facilitado pelo transporte de peixe vivo portador da doença. Além do Brasil, esta doença tem acometido outros países da América e Ásia, sendo considerado um patógeno emergente de impacto mundial para a aquicultura.
Peixes com franciselose manifestam externamente sinais clínicos discretos, podendo ser observados animais com crescimento retardado, emagrecimento, escurecimento do tegumento, exoftalmia e nado em rodopio quando a doença acomete olho e cérebro, além de palidez branquial. Os principais sinais que indicam infecção por Francisella são alterações patológicas internas, quando são observados múltiplos nódulos pequenos de coloração branca no baço, rins (Fig. 1 a – b) e fígado, sendo na realidade granulomas inflamatórios (Fig. 1c) que o sistema de defesa dos peixes lança mão na tentativa de combater a doença. Para uma rápida análise in loco, a realização de imprint de órgãos afetados e realização da coloração de Gram a campo pode ser muito útil para o diagnóstico precoce da doença, podendo ser confirmada a presença de cocobacilos Gram-negativos (Fig. 1 a – detalhe da imagem).
Atualmente, a melhor opção para o tratamento da franciselose tem sido de uso “Off label” (Sem indicação de bula), uma vez que é realizada dosagens superiores de antimicrobiano quando comparada com a dose para outras doenças, como a estreptococose e aeromoniose. O florfenicol tem sido a molécula que apresenta melhor segurança para uso em casos de franciselose, uma vez que possui estudos científicos comprovando sua eficácia, embora com doses superiores ao uso tradicional e com maior período de administração. Por se tratar de uma doença granulomatosa, poucos fármacos possuem a habilidade de ultrapassar as barreiras constituídas nos granulomas. O estudo sobre eficácia, segurança clínica e efeito residual de outras drogas para o tratamento da franciselose são necessários para possibilitar a rotação de moléculas, minimizando riscos de resistência aos antibióticos. Da mesma forma, é de grande interesse o desenvolvimento de vacina para promover a imunoprofilaxia estratégica dos planteis, minimizando as perdas por esta doença.
Fonte: www.aquaculturebrasil.com.
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