sábado, 13 de julho de 2019

Projeto capacita mulheres para o reaproveitamento de resíduos de peixes


De acordo com dados da Federação dos Pescadores do Pará (FEPA), as mulheres representam, hoje, cerca de 10% do total de 120 mil pescadores artesanais em atividade no estado. Elas trabalham, principalmente, na captura de mariscos, no beneficiamento de produtos e na confecção e reparo de apetrechos de pesca. Visando contribuir para a dinamização da economia nas comunidades pesqueiras ou artesãs de Belém e zona metropolitana e incentivar uma maior participação desse público no setor, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) desenvolve, desde 2011, o projeto “Pesca e Arte na Amazônia: inclusão social e geração de trabalho e renda através do aproveitamento do pescado com mulheres – PESCARTE”.

Nestes oito anos, o projeto já atendeu sete comunidades, alcançando mais de 100 mulheres por meio de capacitação para o aproveitamento dos resíduos do peixe (pele e escama) para confecção de artesanato. A coordenadora, professora Jacqueline Abrunhosa, do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos (ISARH) da Ufra, explica que esse trabalho vem contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das famílias locais e para a diminuição do impacto ambiental.

“O aproveitamento dos resíduos de peixes, tais como o couro e escamas, pode originar produtos de artesanato, bolsas, sapatos, roupas e acessórios como uma alternativa de elevado conteúdo socioeconômico para os pescadores artesanais e aquicultores familiares, fixando-os em seu local de origem”, afirma.

Ainda de acordo com ela, a geração de renda obtida através da comercialização do pescado se encontra comprometida na região, fazendo com que o interesse pela pesca artesanal familiar sofra também um declínio. “Estas comunidades veem-se então, cada vez mais obrigadas a atender ao estímulo da busca de geração de renda na economia informal do terceiro setor”, comenta. Em geral, as famílias sobrevivem apenas da comercialização do pescado, descartando os resíduos no meio ambiente.

As oficinas ministradas pela equipe do projeto mostram, na prática, todas as etapas do manuseio das escamas, que se inicia na retirada de pele. O projeto já beneficiou mulheres do Assentamento Abril Vermelho, das comunidades de Cuiarana, Alto Pindorama e Buraju, da Ilha do Marajó, da colônia de pescadores Z23, no distrito de Mosqueiro, e também servidoras das empresas Vale S.A. e Biopalma. No segundo semestre de 2019, a equipe iniciará o trabalho com 15 mulheres de uma cooperativa do município de Cametá. As oficinas são realizadas pela própria professora Jacqueline Abrunhosa com auxílio de graduandas de Engenharia de Pesca.



O PESCARTE já recebeu o Prêmio Professor Samuel Benchimol na categoria empreendedorismo consciente em 2011 e, mais recentemente, o Prêmio UFRA Sustentável, durante a Semana do Meio Ambiente Ufra 2019. Além disso, o projeto já visitou diversas comunidades, empresas e também participou do evento Ver-o-Peso das Águas. “Com isso, mostramos que o resíduo, que no Ver-o-Peso é de aproximadamente uma tonelada por dia, pode ser transformado em objetos de valor comercial, diminuindo, assim, os impactos ambientais causados por eles”, afirma.

A professora também ressalta que toda a produção feita pela equipe é vendida e o dinheiro arrecadado é destinado à compra de materiais necessários para a fabricação de biojóias. Já a produção e a venda dos objetos nas comunidades ajuda na renda familiar.

Além de gerar renda e qualidade de vida para as pescadoras e artesãs, oportunizando emancipação social e sensibilizando as trabalhadoras a respeito dos impactos ambientais gerados por esses resíduos, a ideia do projeto é também servir de modelo para outras comunidades pesqueiras e colônias de pesca.

Texto: Jussara Kishi e Bruna Hellisãna / Fotos: Projeto PESCARTE


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