quarta-feira, 27 de julho de 2016

Professor se torna primeiro brasileiro a ganhar título mundial de Aquicultura

Ciência estuda técnicas de cultivo de peixes e organismos aquáticos.
Wagner concorreu com especialistas de todo o mundo.

Wagner mostra o título mundial que recebeu na Austrália (Foto: Mariane Rossi/G1).
São Paulo (SP) - Um morador de São Vicente, no litoral de São Paulo, se tornou o primeiro brasileiro a receber o título de 'Fellow' da World Aquaculture Society (WAS), a Sociedade Mundial de Aquicultura, ciência que estuda técnicas de cultivo de peixes e organismos que vivem em ambientes aquáticos. Wagner Cotroni Valenti é coordenador executivo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e concorreu com especialistas de todo o mundo. Após receber o reconhecimento, ele diz que deseja ver um mundo mais sustentável e confia em seus alunos para isso.

Wagner conta que, desde que cursou a faculdade de Ciências Biológicas, se interessou pela vida aquática. No mestrado e doutorado, na Universidade de São Paulo (USP), ele trabalhou com camarões de água doce. O gosto pela aquicultura foi se desenvolvendo ao longo da carreira com pesquisas, artigos e trabalhos, principalmente, unindo a parte ecológica com a produção sustentável.

Após 30 anos de estudo e dedicação, veio um dos maiores reconhecimentos do trabalho de Wagner. “Foi surpresa quando eu recebi um email da Sociedade Mundial de Aquicultura dizendo que meu nome tinha sido indicado para concorrer ao prêmio. Meu nome foi sugerido pelo comitê de premiação. Foram sugeridos vários nomes de vários países diferentes. Do Brasil só eu”, conta ele, que enviou os documentos necessários à organização.

Depois de alguns dias, outra surpresa. O comitê enviou um comunicado dizendo que ele tinha sido o ganhador do Fellow da Sociedade Mundial de Aquicultura, que seria entregue em um congresso na Austrália. O prêmio é concedido para pessoas que se destacaram em nível mundial, na formação de profissionais, na pesquisa científica e na difusão de conhecimento na área da aquicultura. “Me deu muita satisfação. Eu achei que era uma coisa muito importante e resolvi encarar a viagem que é muito longa, mais ou menos 40 horas”, conta ele.

A cerimônia de entrega do prêmio aconteceu no Congresso da WAS - World Aquaculture Society em junho, em Adelaide, na Oceania, e contou com especialistas do mundo todo. “Foi muito emocionante. Na entrega, eles projetaram várias fotos minhas e iam mostrando as coisas que eu fiz durante a carreira”, lembra o especialista.

Para ele, a quantidade de atividades bem diversificadas que realizou na área, bem como os 27 livros e artigos, ajudaram a conquistar o título. “Eu sabia que a concorrência era muito grande. Eles pegam as pessoas com mais destaque no mundo. Eu achei que eu ainda não estava nesse nível. Concorri com pessoas de países desenvolvidos como americanos, canadenses e europeus”, afirma. Além de receber o prêmio, Wagner apresentou um trabalho sobre aproveitamento de nutrientes minerais em sistemas de aquicultura, que foi realizado em viveiros de aquicultura no interior de São Paulo.

O professor dedicou o prêmio aos alunos e todos aqueles que já formou no meio acadêmico. “Tenho alunos em instituições de pesquisa no Brasil inteiro e em outros países do mundo”, comentou. Depois de receber o título, ele sente que está no caminho certo para aceitar novos desafios a favor da ciência. “Você tem um estímulo maior para continuar trabalhando mais, dá um incentivo para você continuar investindo nas suas ideias, formando mais alunos, dá uma segurança maior para trabalhar, além de uma satisfação pessoal”, falou. Ele deseja que os alunos sigam seus passos. “Eu não tenho a pretensão de ver um mundo mais sustentável. Mas, eu tenho uma expectativa muito grande de que a nova geração é que vai fazer o planeta mais sustentável”, afirma.

Aquicultura

De acordo com o especialista, o Brasil é hoje o país que tem o maior potencial para o desenvolvimento da aquicultura. “Hoje nós temos 12% de toda a água doce superficial do mundo e uma costa de mais de 8 mil km2”, afirma. Porém, não há uma tradição na produção de organismos aquáticos, como acontece os países asiáticos, e os sistemas utilizados são pouco sustentáveis, usando o máximo de recursos sem se preocupar com o futuro. “O Brasil é o 18º produtor mundial de organismos aquáticos por aquicultura. “A gente está muito abaixo do nosso potencial ainda”, conclui Wagner.


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