domingo, 13 de setembro de 2020

Estudo avalia eficiência da aplicação de calcário agrícola em viveiros de piscicultura

 

Grande quantidade de fitoplâncton no viveiro. Foto: Julio Queiroz.

A aplicação de grande quantidade de calcário agrícola não influencia, a curto prazo, a precipitação de fitoplâncton e de argila em suspensão em viveiros de piscicultura, conforme demonstra estudo feito pelos pesquisadores Julio Queiroz, Rita Carla Boeira e Gilberto Nicolella, disponível no Boletim de Pesquisa 69 da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP).

A globalização dos sistemas intensivos de produção de peixes e camarões tem levado os aquicultores a aumentarem as quantidades de ração nos viveiros e tanques rede. Em geral, esse procedimento tem sido feito sem critérios técnicos resultando em aumentos significativos de nutrientes na água e, em consequência, causando eutrofização, que consiste no aumento da densidade de microalgas que compõem a comunidade fitoplanctônica, comprometendo diretamente a qualidade da água.

A eutrofização é a principal responsável pelas quedas repentinas na concentração de oxigênio dissolvido. Quando esse processo é muito intenso, as cianobactérias, microalgas verdes-azuis, dominam as comunidades fitoplanctônicas e podem causar off flavor (gosto de terra) nos peixes e camarões, e também riscos à saúde dos consumidores.

Com relação a essas questões, têm sido buscadas estratégias nutricionais para promover o equilíbrio entre a produção de organismos aquáticos e o ambiente, e que enfatizem a importância da nutrição e manejo alimentar dos peixes somados às Boas Práticas de Manejo (BPM) para promover o aumento da produtividade e a redução da eutrofização.

Visando-se manter a qualidade da água, tem-se adotado como procedimento padrão a aplicação de pequenas quantidades de calcário agrícola, pois a calagem contribui para aumentar a alcalinidade da água e o pH dos sedimentos do fundo dos viveiros e também reduz as concentrações de dióxido de carbono e fósforo solúvel na água.

Em visita à Ásia, onde os sistemas de produção são mais intensivos e onde a aquicultura é mais desenvolvida, foi constatado que aplicações extras ou complementares de calcário agrícola são feitas quando ocorrem mudanças na coloração da água para uma tonalidade esverdeada intensa, e também pela redução da transparência, mas essas aplicações não têm como objetivo diminuir a densidade de fitoplâncton.

No entanto, "tem-se disseminado a hipótese que aplicações de grandes quantidades de calcário em viveiros de aquicultura na Ásia e em outros países, como no Brasil, provocariam a precipitação do fitoplâncton, a sedimentação das partículas de argila em suspensão e a melhoria da qualidade da água dos viveiros poucos dias após a aplicação. Porém não há estudos que comprovem sua eficiência”, explica Queiroz.

No Brasil há diversos estudos com calcário agrícola, aplicado em pequenas quantidades, avaliando-se efeitos das variações sazonais – temperatura, chuvas – sobre a dinâmica da água e dos peixes e sobre a comunidade planctônica sem, no entanto, focarem-se sobre aplicações de grandes quantidades em viveiros de piscicultura e seus efeitos na diminuição da concentração de sólidos em suspensão (argila) e de fitoplâncton.

Por isso, este trabalho buscou avaliar esses efeitos, em seis viveiros escavados de 0,04ha localizados na Estação de Piscicultura da Auburn University, EUA, povoados com “catfish” – bagre do canal. Conforme Queiroz, “os resultados demonstraram que não houve mudanças significativas quanto à redução de fitoplâncton e melhoria de outros parâmetros de qualidade da água, com exceção de um aumento nas concentrações da alcalinidade total e da dureza total”.

“Concluímos que a aplicação de altas doses não se justifica como um tratamento efetivo para precipitação de fitoplâncton e sedimentação de partículas em suspensão em viveiros de piscicultura”, diz ele.


Fonte: www.embrapa.br.

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