terça-feira, 5 de novembro de 2019

Aquicultura brasileira contará com sistema de inteligência territorial estratégica

Foto: Divulgação Embrapa.
A Embrapa está mapeando, por imagens de satélite, os viveiros de criação de peixes e outros animais aquáticos em todo o Brasil. As informações ficarão disponíveis em uma plataforma online, que abrigará vasta quantidade de dados georreferenciados sobre a atividade aquícola, e comporão um Sistema de Inteligência Territorial Estratégica (Site) da Aquicultura Brasileira.
O objetivo é utilizar os dados organizados nacionalmente para impulsionar ainda mais os números da produção aquícola do País, que se encontra em franco crescimento (veja quadro).

A plataforma em construção apresentará para a aquicultura os cinco quadros definidos na metodologia da Embrapa para sistemas de inteligência territorial estratégica: natural, agrário, agrícola, infraestrutura e socioeconômico (veja quadro abaixo). “Temos um conjunto significativo de dados secundários relacionados à produção agrícola, questões socioeconômicas e emprego para analisar a aquicultura nesses cinco quadros, integrando-os de forma coerente”, informa o analista Marcelo Fonseca, da Embrapa Territorial (SP).

Procurando tanques escavados em imagens de satélite

Encontrar, nas imagens dos mais de 8,5 milhões de km² do Brasil, a localização dos tanques escavados é um desafio gigantesco para a geotecnologia. Quando lavouras são objeto de estudo, por exemplo, é possível até separar uma cultura da outra, por meio da diferenciação da radiação solar que cada uma reflete.
No entanto, com corpos hídricos, as diferenças são muito sutis, o que torna difícil distinguir um lago ou uma pequena represa de um tanque escavado de criação de peixes de forma automática. “Na verdade, a água mais absorve do que reflete a radiação, assim como sombras de montanhas, telhados e outros elementos escuros presentes na imagem, atrapalhando a automatização de todo o processo”, explica o analista da Embrapa André Farias.
O coordenador do trabalho, o geógrafo Balbino Evangelista, da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), acredita que o esforço em coletar dados sobre a aquicultura nacional poderá beneficiar diferentes atores das cadeias produtivas do ramo, como instituições públicas e privadas, extensionistas, produtores e associações. “O produtor poderá aprimorar as suas atividades de planejamento e de produção na medida em que tiver acesso às informações de mercado, estatísticas de produção e rendimento, além de indicadores técnicos gerais, por exemplo”, prevê.


Começo por Rondônia

Para iniciar o trabalho, a equipe escolheu o estado de Rondônia. O único filtro foi a retirada das áreas onde a aquicultura não é permitida, como as destinadas a Unidades de Conservação de Proteção Integral e Terras Indígenas. Depois, a equipe avaliou, visualmente, ponto por ponto assinalado como possível corpo d’água para identificar quais realmente correspondiam a viveiros escavados para aquicultura.
Foram encontradas 1.875 áreas, denominadas polígonos, representativas de viveiros com mais de um hectare, que somavam 8.138 ha. Ariquemes, Mirante da Serra e Urupá foram os municípios com maior participação nesse montante. Os resultados desse trabalho foram publicados em artigo.

Ampliando o trabalho

O resultado positivo da primeira experiência encorajou o grupo a ampliar o trabalho. A equipe da Embrapa Territorial levantou, nas bases de dados do IBGE, os municípios que em cada estado respondem por 75% da produção aquícola. Na análise das imagens de satélite desses municípios foi aplicado um índice denominado NDWI, para destacar os corpos d’água.
Depois, foram identificados os viveiros nessas localidades. Somente nos 12 primeiros estados mapeados, os analistas e colaboradores do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da Embrapa analisaram mais de 40 milhões de hectares em 223 municípios e identificaram 7.871 unidades de produção aquícola – como foi denominado cada conjunto de viveiros.
As imagens utilizadas são dos satélites Sentinel 2-A e 2-B, com dez metros de resolução espacial. O estudante de Engenharia Ambiental e Sanitária Henrique Carlsen, ex-colaborador do projeto na Embrapa, conta que, mesmo identificando o polígono como corpo d’água, ainda é preciso saber se realmente se trata de uma estrutura para aquicultura ou destinada a outra finalidade, como dessedentação animal e cultivo de arroz irrigado. Ele conta que o formato e a disposição das lâminas d’água são pontos-chave para diferenciá-los.
A geóloga Yara Cristina de Carvalho Novo, que também atua no projeto, afirma que essas características e a organização dos viveiros também permitem identificar o tamanho do empreendimento. Ela observou grandes diferenças, por exemplo, entre as unidades de produção no Ceará, maiores, e as do Paraná, de menor porte.
O grupo de pesquisa está vetorizando os viveiros (desenhando seus contornos), trabalho que gera uma tabela de atributos como a localização e a área de cada um. A base ainda deverá armazenar outras informações que trabalhos posteriores possam adicionar, aprimorando o conhecimento e construindo o referencial para gestão da aquicultura no Brasil.

Um futuro Zarc das águas

O líder do Site da Aquicultura Brasileira faz um paralelo entre o trabalho que está começando e o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc). “Se hoje esse zoneamento é fundamental para o produtor rural fazer um bom planejamento de suas lavouras, correndo riscos menores, essa condição só foi possível com a pesquisa agropecuária”, lembra Balbino.
Ele prevê que, assim como ocorreu com o Zarc, o Site Aqui, com o tempo, irá oferecer informações científicas e objetivas para o aquicultor. “O projeto vai gerar uma base de informações técnicas acerca da atividade, que permitirá à pesquisa propor uma primeira metodologia de zoneamento aquícola (podendo ser por espécie ou grupo de espécies ou ainda por aptidão ou risco climático/ambiental). E assim gerar uma primeira versão para ser avaliada e aperfeiçoada por meio de novas pesquisas, como ocorreu com o Zarc”, detalha Balbino.

Fonte: 
www.embrapa.br