segunda-feira, 15 de julho de 2019

Pesquisa avalia viabilidade do couro de peixe na indústria da moda

A ideia é destinar à crescente indústria da moda sustentável (Foto: Divulgação/Embrapa).

A unidade da Embrapa Pecuária Sudeste (SP) está desenvolvendo o primeiro protocolo para avaliar a resistência do couro de peixe destinado à indústria da moda sustentável. A ação faz parte do projeto “Ações estruturantes e inovação para o fortalecimento das cadeias produtivas da aquicultura no Brasil”, iniciado no ano passado e que envolve mais de 20 centros de pesquisa da Embrapa e R$ 57 milhões em recursos financeiros.

À frente do projeto, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, Manoel Antônio Chagas, diz que o protocolo a ser adotado deverá ajudar a compor normas internacionais para retirada de amostras de animais não mamíferos para pesquisas. Atualmente, não há metodologia específica para coleta de amostras de peles de aves, répteis, anfíbios e peixes.

O pesquisador tem utilizado tilápias com peso mínimo de 3,5 quilos, com superfícies maiores para viabilizar os estudos. Normalmente, para o mercado tradicional, os peixes são abatidos com 700 a 800g, que é o peso mais viável para a carne e em função do custo para o produtor. No entanto, nos últimos anos, os fabricantes de produtos de couro de peixe – especialmente marcas internacionais como a Hermès, Armani e Osklen, que já produzem peças com o material – têm preferido couro de peixes maiores, como o pirarucu.

Em novembro de 2018, a modelo Gisele Bündchen desembarcou no Brasil com uma bolsa feita de couro de peixe de R$ 3,9 mil. O custo alto é explicado pela logística complicada, mas ainda é uma forma mais sustentável de consumo, já que a produção dos peixes não está ligada diretamente ao desmatamento.


Recadastramento de pescadores começa em agosto, diz secretário

Em live semanal do presidente da República, Jorge Seif Junior, afirmou que pendências legais atrasaram a implantação do sistema

Plano Safra 2019/2020 tem medidas para o setor de aquicultura e pesca no Brasil (Foto: Noel Portugal/CCommons).

O governo federal começará em agosto a fazer o recadastramento de pescadores profissionais para a concessão do seguro defeso, pago durante o período reprodutivo dos peixes, em que a pesca é proibida. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro, na transmissão semanal ao vivo pela internet, na última quinta-feira (4/7), o secretário especial de Pesca e Aquicultura, Jorge Seif Junior, reconheceu atraso em relação ao cronograma inicial.

“Atrasamos um pouquinho porque há questões legais pertinentes. Mas, a partir de agosto, começa o recadastro nacional”, disse Seif, sem detalhar quais seriam as pendências legais.

O governo federal afirma que as mudanças no sistema do seguro defeso visam combater fraudes. Estima que, dos R$ 2 bilhões gastos com o pagamento dos benefícios-dois terços são pagos irregularmente, para pessoas que não têm na pesca sua principal fonte de renda. Segundo o governo, foram encontrados beneficiários de sete e de até 148 anos de idade entre os beneficiários.

Em transmissões anteriores pela internet ao lado do presidente, o próprio Seif chegou a dizer que o sistema estaria pronto até o início de junho. Além de anunciar um novo cadastro, o governo prometeu anistia ao beneficiário irregular que tirasse seu nome do cadastro até a mudança. Caso contrário, seria processado por falsidade ideológica. Nesta semana, Seif Junior estimou uma economia de R$ 6 milhões por ano com o descadastramento.

Plano Safra

Na transmissão, Jorge Seif Junior destacou ainda as medidas para a aquicultura e pesca contempladas no Plano Safra 2019/2020, que entrou em vigor no último dia primeiro de julho. Foram estabelecidos preços de referência para a comercialização de diversas espécies. Foi eliminada a exigência do Registro Geral de Atividade Pesqueira para investimentos na atividade, equiparando-a à pecuária.

“A indústria pode pegar uma parte do recurso para comprar o pescado, o que é inédito. E o aquicultor está dispensado do RGP. É menos burocracia para acessar o crédito”, disse Seif, na transmissão.


sábado, 13 de julho de 2019

Projeto capacita mulheres para o reaproveitamento de resíduos de peixes


De acordo com dados da Federação dos Pescadores do Pará (FEPA), as mulheres representam, hoje, cerca de 10% do total de 120 mil pescadores artesanais em atividade no estado. Elas trabalham, principalmente, na captura de mariscos, no beneficiamento de produtos e na confecção e reparo de apetrechos de pesca. Visando contribuir para a dinamização da economia nas comunidades pesqueiras ou artesãs de Belém e zona metropolitana e incentivar uma maior participação desse público no setor, a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) desenvolve, desde 2011, o projeto “Pesca e Arte na Amazônia: inclusão social e geração de trabalho e renda através do aproveitamento do pescado com mulheres – PESCARTE”.

Nestes oito anos, o projeto já atendeu sete comunidades, alcançando mais de 100 mulheres por meio de capacitação para o aproveitamento dos resíduos do peixe (pele e escama) para confecção de artesanato. A coordenadora, professora Jacqueline Abrunhosa, do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos (ISARH) da Ufra, explica que esse trabalho vem contribuindo para a melhoria da qualidade de vida das famílias locais e para a diminuição do impacto ambiental.

“O aproveitamento dos resíduos de peixes, tais como o couro e escamas, pode originar produtos de artesanato, bolsas, sapatos, roupas e acessórios como uma alternativa de elevado conteúdo socioeconômico para os pescadores artesanais e aquicultores familiares, fixando-os em seu local de origem”, afirma.

Ainda de acordo com ela, a geração de renda obtida através da comercialização do pescado se encontra comprometida na região, fazendo com que o interesse pela pesca artesanal familiar sofra também um declínio. “Estas comunidades veem-se então, cada vez mais obrigadas a atender ao estímulo da busca de geração de renda na economia informal do terceiro setor”, comenta. Em geral, as famílias sobrevivem apenas da comercialização do pescado, descartando os resíduos no meio ambiente.

As oficinas ministradas pela equipe do projeto mostram, na prática, todas as etapas do manuseio das escamas, que se inicia na retirada de pele. O projeto já beneficiou mulheres do Assentamento Abril Vermelho, das comunidades de Cuiarana, Alto Pindorama e Buraju, da Ilha do Marajó, da colônia de pescadores Z23, no distrito de Mosqueiro, e também servidoras das empresas Vale S.A. e Biopalma. No segundo semestre de 2019, a equipe iniciará o trabalho com 15 mulheres de uma cooperativa do município de Cametá. As oficinas são realizadas pela própria professora Jacqueline Abrunhosa com auxílio de graduandas de Engenharia de Pesca.



O PESCARTE já recebeu o Prêmio Professor Samuel Benchimol na categoria empreendedorismo consciente em 2011 e, mais recentemente, o Prêmio UFRA Sustentável, durante a Semana do Meio Ambiente Ufra 2019. Além disso, o projeto já visitou diversas comunidades, empresas e também participou do evento Ver-o-Peso das Águas. “Com isso, mostramos que o resíduo, que no Ver-o-Peso é de aproximadamente uma tonelada por dia, pode ser transformado em objetos de valor comercial, diminuindo, assim, os impactos ambientais causados por eles”, afirma.

A professora também ressalta que toda a produção feita pela equipe é vendida e o dinheiro arrecadado é destinado à compra de materiais necessários para a fabricação de biojóias. Já a produção e a venda dos objetos nas comunidades ajuda na renda familiar.

Além de gerar renda e qualidade de vida para as pescadoras e artesãs, oportunizando emancipação social e sensibilizando as trabalhadoras a respeito dos impactos ambientais gerados por esses resíduos, a ideia do projeto é também servir de modelo para outras comunidades pesqueiras e colônias de pesca.

Texto: Jussara Kishi e Bruna Hellisãna / Fotos: Projeto PESCARTE


sexta-feira, 12 de julho de 2019

A fazenda do futuro pode ser uma fazenda de peixes?

Cultivo em tanque rede de tilápias. Foto: revistagloborural.globo.com.

Até 2050, estima-se que a população mundial cresça em pelo menos 2 bilhões de pessoas. E, entre muitos outros aspectos, isso significa que precisaremos de muito mais alimentos. Pensando nisso, as consequências desse boom na demanda por alimentos ao redor do planeta já estão sendo previstas. Atualmente, já é possível ver como o planeta vem reagindo às práticas do agronegócio e a preocupação para o futuro não está apenas em garantir que bilhões de pessoas sejam alimentadas, mas também que isso aconteça da forma mais sustentável possível. A criação de gado para a alimentação é uma enorme fonte de emissões de gases de efeito estufa; além disso, é preciso lembrar os danos críticos causados aos ecossistemas oceânicos, com a pesca.

Pelo menos 3 bilhões de pessoas em todo o mundo já têm o peixe como sua principal fonte de proteína, então simplesmente recolher os anzóis e proibir a pesca nos oceanos é algo completamente fora de possibilidade. O setor de aquicultura global já está avaliado em US$ 243,5 bilhões (o que equivale a mais de R$ 930 bilhões), e segue crescendo a uma taxa de cerca de 6% ao ano. E um novo relatório fez recomendações de como estruturar uma indústria pesqueira sustentável, e mostra que encontrar formas melhores de produzir peixes pode ser uma oportunidade lucrativa para os investidores.

Um relatório intitulado “Towards a Blue Revolution” (ou “Rumo à Revolução Azul”, em tradução livre), realizado pelas organizações The Nature Conservancy e Encourage Capital, recomenda três formas para criar uma indústria de piscicultura sustentável e bem-sucedida: tanques de peixes terrestres, criação de peixes grandes (como salmão) no mar, e operações agrícolas em rápida expansão para mariscos e algas marinhas.

“Uma das principais coisas que estamos fazendo como organização é tentar encontrar soluções para alimentar 9 bilhões de pessoas no planeta até 2050, da maneira mais sustentável possível”, diz Robert Jones, líder global do programa de aquicultura da The Nature Conservancy.

“Pelos nossos cálculos, serão necessários cerca de US$ 150 bilhões a US$ 300 bilhões em investimentos e capital apenas para atender a demanda por frutos do mar até 2030”, continua Jones. “Esta é uma grande oportunidade de mercado e uma grande oportunidade para a conservação, se pudermos direcionar o capital para os sistemas de produção mais sustentáveis”.

A produção de peixe em terra, tecnicamente chamada de “Aquicultura em Sistema de Recirculação” (RAS), envolve a criação de peixes em piscinas gigantes. Basicamente, os peixes são cultivados em tanques usando a tecnologia avançada de filtragem para filtrar os resíduos. O tanque, que é fechado, garante que nenhuma sujeira ou peixe escape em cursos de água próximos. A água pode ser tratada para permanecer “tão boa ou melhor” do que quando foi bombeada, e os tanques podem estar localizados mais perto dos principais mercados para cortar os custos de transporte. Isso é especialmente importante para países como, por exemplo, os EUA, onde 90% de seu atual suprimento de frutos do mar é importado.

Quando os peixes são criados no mar, isso normalmente é feito perto da costa, onde águas rasas e fluxos de água mais fracos podem fazer com que os resíduos contaminem as águas a causem doenças. Mudar para águas mais profundas com correntes mais fortes significa uma melhor difusão – algo que também poderia evitar doenças e parasitas.

“A nova ciência está mostrando que os impactos da qualidade da água além de 90 metros dessas fazendas são geralmente muito reduzidos, e estudos mais recentes estão mostrando que não há impacto mensurável na qualidade da água ao redor dessas fazendas quando elas estão longe da costa, o que é algo muito relevante”, diz Jones.

As fazendas de piscicultura offshore e Aquicultura em Sistema de Recirculação atualmente representam menos de 1% de toda a produção de peixe no mundo, mas o preço e a curva de aprendizado para ambos estão caindo. A despesa inicial de capital para a RAS, por exemplo, caiu 400% a mais com do que a tradicional pesca com rede.

Há também os bivalves e as algas marinhas. Para Jones, esses são os “super-heróis” da produção de alimentos. “Eles têm propriedades únicas que podem fornecer benefícios ecológicos para o meio ambiente”. ele concluí. As ostras filtram o nitrogênio dos cursos de água em que vivem; e as algas marinhas fazem o mesmo com o nitrogênio e o dióxido de carbono, ao mesmo tempo em que proporcionam uma espécie de amortecedor da linha costeira, ajudando a Natureza a lidar com mares agitados, proporcionando um habitat em que mais espécies vivam – e mais pessoas estão pensando em novas formas inteligentes de introduzir as algas na alimentação das pessoas.

Então, quando nos perguntamos se a fazenda do futuro pode ser uma fazenda de peixes, a melhor resposta possível é: Por que não?