segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Estudo avalia tempo necessário para a eliminação de antibiótico por tilápias



Uma equipe de pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) determinou o tempo necessário para que o antibiótico sulfametazina (SMZ) seja eliminado do músculo (filé) da tilápia de cultivo (Oreochromis niloticus), principal espécie de peixe cultivada no Brasil. As análises determinaram que após o tratamento por 11 dias, o nível máximo de bioacumulação de SMZ em músculo de tilápia foi de 1,6 mg/kg. Em cerca de 15 dias o animal elimina praticamente a totalidade do medicamento do organismo e, em dez dias, já apresenta níveis aceitáveis pela Comunidade Europeia. Publicado em abril no periódico holandês Chemosphere, o trabalho recebeu destaque na imprensa especializada internacional (FeedNavigator, Aquahoy).

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Sonia Queiroz, uma das autoras da pesquisa, a SMZ é um fármaco não autorizado para uso veterinário em peixes no Brasil, por isso, o estudo oferece subsídios para o estabelecimento de políticas públicas de controle de drogas veterinárias não permitidas no País.

O objetivo da pesquisa foi avaliar a depleção dos resíduos do antibiótico SMZ em tilápia tratada com ração medicada. Após 11 dias de administração da SMZ, seguidos de uma fase de eliminação do organismo, foi calculado o período para atingir o limite máximo de resíduos (LMR). Conforme explica o pesquisador da Embrapa Claudio Jonsson, que também participou do estudo, esse nível é a concentração máxima de resíduo legalmente tolerada no filé. O valor é estabelecido pela Comunidade Europeia para todas as substâncias do grupo das sulfonamidas (no qual se enquadra a SMZ) e é equivalente a 0,1 mg/kg.

“Portanto, deve-se respeitar a dose de tratamento, assim como o período de eliminação para que a concentração decresça até o limite máximo de resíduo de 0,1 mg/kg, ou menos", recomenda o pesquisador, na hipótese de o medicamento vir a ser registrado no Brasil para essa finalidade.

O pesquisador também chama a atenção para o fato de que os dados foram obtidos em temperatura experimental por volta de 26ºC e que em regiões mais frias pode ser necessário um tempo maior para a eliminação do medicamento. De acordo com o cientista, isso ocorre porque a temperatura da água influencia no metabolismo do peixe. “Também é importante dizer que a pesquisa somente oferece dados para tomadas de decisão e ela não muda a regulamentação vigente”, ressalta Jonsson, lembrando que a SMZ continua vetada para uso veterinário em tilápias no Brasil.

O método
Segundo Sonia Queiroz, os peixes foram expostos à SMZ por meio da ração medicada e os resíduos foram determinados por meio de método desenvolvido e validado no laboratório de resíduos da Embrapa Meio Ambiente. O método analítico criado deu origem a outro artigo científico publicado este ano na revista norte-americana Journal of Analytical Methods in Chemistry.

Caso o produto venha a ser autorizado para uso na piscicultura, a pesquisa demonstra a necessidade de o produtor conhecer o tempo necessário de dez dias para eliminação da substância até atingir o limite máximo de resíduo permitido pela Comunidade Europeia antes de abater as tilápias.

A piscicultura é um negócio que está em contínua expansão. Ela cresce mais rápido do que qualquer outra atividade de criação de animais para alimentação humana e a restrição de surtos de doenças é fator importante para o seu desenvolvimento.

Os sistemas de piscicultura se caracterizam por alta densidade populacional e usa ração formulada que pode conter antibióticos, antifúngicos e outros produtos quimioterapêuticos. Por isso, os dados sobre uso apropriado de medicamentos no tratamento de doenças são necessários para a atividade.

A utilização de substâncias antimicrobianas na piscicultura é um poderoso recurso que vem sendo aplicado em todo o mundo para garantir a saúde dos animais e uma maior rentabilidade da produção. Como consequência, a presença de resíduos de medicamentos em níveis acima do permitido em produtos animais pode oferecer risco à saúde humana.

Devido ao seu baixo custo e alta eficácia contra várias infeções bacterianas, as sulfonamidas pertencem a uma das classes de antibióticos amplamente usados para tratar doenças humanas, mas também na medicina veterinária, incluindo a piscicultura.

A administração oral dos medicamentos veterinários, por meio da ração medicada, faz com que o tratamento para peixes adultos seja relativamente fácil e barato. Por isso, esse método se tornou a principal maneira para medicá-los.

Fonte: www.embrapa.br.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Tecnologia a favor da tradição

Projeto fortalece preservação do pirarucu na Região Norte do Brasil

Marcadores genéticos microssatélites vão identificar os indivíduos pelo DNA, determinando os perfis genéticos dos pirarucus de diferentes criações nos Estados brasileiros.

Considerado por muitos o maior peixe de água doce do Brasil, o pirarucu pode medir 2 metros de comprimento e pesar até 200 kg, e é visto como um dos símbolos da Amazônia. A espécie pode ser encontrada ao longo da bacia amazônica, principalmente nos ambientes com lagos e várzeas, onde a correnteza é fraca. Esse “gigante” tem a peculiaridade de vir à superfície de tempos em tempos, para captar oxigênio.

Apesar de sua importância, essa espécie tem sofrido com a pesca predatória e apresenta declínio populacional na região desde 1950. Com a preocupação de apontar modos de preservação do pirarucu, surgiu o Projeto “Pirarucu da Amazônia: Pesquisa e transferência de tecnologias”, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto de Estudos Costeiros (IECOS/UFPA). “Nosso objetivo é entender, desenvolver, aperfeiçoar e transferir conhecimentos associados ao pirarucu, de maneira a fortalecer e a incentivar a criação sustentável da espécie e a conservação das populações naturais”, explica Juliana Araripe Gomes da Silva, pesquisadora responsável pelo projeto.

A pesquisadora relata que a época de seca é o período de procriação dos pirarucus e é nesse período que eles ficam mais vulneráveis à pesca. A espécie sofreu uma exploração intensa e descontrolada por muitas décadas, essencialmente entre os séculos XIX e início do XX, e foi considerada extinta em algumas regiões, gerando redução no desembarque desses peixes em centros urbanos, como Santarém (PA) e Manaus (AM).

Em resposta a esse fenômeno, o governo criou diversas restrições à exploração do pirarucu: o tamanho mínimo de captura para a comercialização passou a ser 150 cm; a proibição da pesca durante o período de defeso (reprodução) da espécie, que varia de acordo com a região (no Pará, por exemplo, esse período é estipulado entre 1° de dezembro e 31 de maio).

Além dessas medidas, as principais estratégias para a recuperação da espécie é o manejo participativo, desenvolvido por populações ribeirinhas, e a criação em cativeiro. Esse modelo foi desenvolvido, inicialmente, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, e hoje se estende por diversos locais, onde a pesca do pirarucu é importante. “Os governos deveriam estimular mais atividades que possam subsidiar a pesca manejada, tais como ampliar o conhecimento sobre a pesca, capacitar as comunidades diretamente envolvidas no processo com informações sobre a biologia da espécie e o seu manejo adequado”, avalia Juliana Araripe.

Caracterizados mais de 20 estoques de manejo participativo

A pesquisa se divide em processos de análise, que são engorda, genética, nutrição e sanidade. Com isso, o estudo propõe a realização de atividades direcionadas ao ensino de boas práticas de tratamento dos animais; investigação e aprimoramento das ferramentas genéticas; formulação de rações específicas e composições que melhorem o trato digestório da espécie; além de avaliar o sistema imunológico e o controle parasitário do peixe.

A professora Juliana Araripe atua na área de análises genéticas dos pirarucus. A proposta é usar marcadores genéticos microssatélites, que servem para diferenciar indivíduos pelo DNA. A partir disso, são determinados os perfis genéticos de pirarucus provindos de diferentes criações nos Estados brasileiros. Esses dados serão comparados com pirarucus de populações naturais e, assim, ocorrerá a transferência de conhecimento para quem cria a espécie em cativeiro. “Esperamos desenvolver um sistema de rastreamento para a espécie em que, a partir do perfil genético, poderemos identificar a sua origem”, revela a pesquisadora.

Alguns resultados obtidos mostram a caracterização dos estoques de mais de vinte pisciculturas das Regiões Norte e Nordeste, em que algumas indicavam níveis de diversidade genéticos muito baixos, o que pode comprometer a viabilidade desses animais. Além disso, também já foram identificados alguns alelos que podem ser úteis no processo de rastreamento dos pirarucus, gerando um painel de marcadores SNP por meio de sequenciamento da nova geração. A técnica permite fazer inferências refinadas sobre a espécie, tanto na natureza como em cativeiro.


Ed.146 - Dezembro e Janeiro de 2018/2019

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Pirarucu da Amazônia: Pesquisa e transferência de tecnologias

Pesquisadora responsável: Juliana Araripe Gomes da Silva

Projeto de pesquisa: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com o Instituto de Estudos Costeiros (IECOS/UFPA)