sábado, 29 de setembro de 2018

Projeto cria programa de incentivo para pequena agroindústria familiar

O objetivo é incentivar o beneficiamento e o processamento industrial da produção agropecuária pelos agricultores familiares e pesqueira


A Câmara dos Deputados está analisando o Projeto de Lei 10066/18, que institui o Programa de Fomento e de Desenvolvimento da Pequena Agroindústria Familiar e Pesqueira (Propagro).

Apresentada pelo Deputado Pedro Uczai, a proposta tem o objetivo de incentivar o beneficiamento e o processamento industrial da produção agropecuária pelos agricultores familiares, suas associações e cooperativas, facilitando o acesso desses produtos aos mercados institucionais.

Pelo projeto, caberá à Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário a gestão do programa. O órgão vai coordenar a elaboração de planos plurianuais e estabelecerá as metas anuais a serem alcançadas pelo programa. O texto assegura também a participação das entidades de representação da Agricultura Familiar de caráter nacional na elaboração dos planos.

Ainda conforme o texto, serão instrumentos do Propagro: a Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater); o financiamento com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) à produção e aos bens e serviços indispensáveis aos processos de agroindustrialização; o Programa de Aquisição de Alimentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

“É claro que o Pronaf já inclui entre as suas linhas de financiamento atividades de processamento e industrialização da produção agropecuária realizadas nos estabelecimentos familiares”, explica o deputado. “Contudo, além da pequena escala, os financiamentos do gênero ocorrem de forma fragmentada e concentradas mais na região sul do Brasil”, complementa.

Planos Safras

Segundo a proposta, os Planos Safras da Agricultura Familiar definirão o montante dos recursos do Pronaf a serem destinados ao Propagro a cada ano; as metas da Ater; e o volume de produtos a serem adquiridos no âmbito Programa de Aquisição de Alimentos e do PNAE.

O Poder Executivo definirá as bases e as condições dos financiamentos no âmbito do programa, ficando asseguradas condições diferenciadas para os assentados em projetos de reforma agrária, comunidades extrativistas e tradicionais.

Tramitação

O projeto será analisado, em caráter conclusivo, ou seja  o recurso só será votado pelas comissões designadas para analisá-lo, dispensada a deliberação do Plenário.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Mais competitividade para tilápia

Laudo elaborado pela Embrapa Pesca e Aquicultura viabiliza drawback para exportação


A Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO) elaborou um laudo técnico que vai viabilizar a isenção de impostos federais como Imposto de Renda, IPI, PIS e Cofins  na compra de insumos utilizados na produção de tilápia para exportação. 
A prática da chamada drawback – comum no mercado de suínos e aves – agora será possível também para a comercialização do peixe no mercado externo. O laudo com a planilha de equivalência de insumos foi aprovado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e será utilizado na concessão do benefício aos exportadores. 
Na última segunda-feira (24) houve uma reunião em Brasília com representantes do MDIC, Embrapa, Associação Brasileira de Piscicultura PeixeBr e exportadores para verificar como a desoneração ocorrerá na prática. Com a medida, o produtor ganhará mais competitividade no preço do seu produto no mercado externo. As empresas associadas interessadas em ter essa isenção já podem fazer o cadastramento no site do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Segundo Manoel Xavier Pedroza Filho, pesquisador da Embrapa Pesca e Aquicultura responsável pelo estudo, a desoneração fiscal deve promover uma redução de até 26% nos custos com ração importada – insumo de maior impacto nos custos de produção. Se for comprada no mercado interno, a redução será de aproximadamente 10%. “Adaptamos a planilha desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves para a exportação de tilápia”, detalha ele.

Pela planilha é possível saber a quantidade de insumos utilizados para produzir o volume que será exportado, possibilitando, assim, determinar o quantitativo de insumos que terão os impostos desonerados. “Estão incluídos os alevinos, a ração utilizada nas diferentes fases de crescimento do peixe e as vacinas”, afirma Pedroza. Se o produtor fabrica sua própria ração, estão especificados na planilha todos os ingredientes empregados na fabricação do produto.

Atualmente os Estados Unidos são o maior importador de tilápias do Brasil, principalmente dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O drawback é utilizado em diversos produtos de exportação. Segundo dados do Sistema Integrado de Comércio Exterior – SISCOMEX, 22,7% dos 186 bilhões de dólares originários da exportação em 2016 foram por meio de drawback
No caso do alumínio bruto, por exemplo, as exportações por meio desse benefício fiscal atingiram 99,8% do volume total em 2014. No setor agropecuário, 58% das exportações de celulose foram por meio da desoneração fiscal. No caso da carne de frango, esse valor chega a mais da metade do total exportado: 67 %. Ano passado a tilápia rendeu ao Brasil U$ 4.700 mil do mercado externo. “Essa é mais uma conquista para a piscicultura brasileira e a Peixe BR orgulha-se de ter participado ativamente dessa negociação”, comemora o presidente da Associação, Francisco Medeiros.
Pedroza (o primeiro, à esq.) ao lado de produtores e representantes do MDIC e da PeixeBR.

Fonte: 
www.embrapa.br.

Aquicultura: setor reclama da burocracia para conseguir licenças ambientais

Para aumentar os números da produção nacional, a proposta é unificar e informatizar os pedidos de licenciamento ambiental

Cultivo de Tambaqui em Itapuã. Foto: Irene-Mendes.
Pelo menos 3 mil pedidos de licença ambiental para o setor de aquicultura esperam há mais de 10 anos em Brasília para serem aprovados. Os produtores reclamam da burocracia, que segundo eles, impede a expansão do setor que tem amplo potencial de crescimento, já que o nosso país produz apenas dois terços do pescado consumido no mercado interno.

Representante da Associação dos Produtores de Peixe de Rondônia, Francisco Hidalgo Farina, reclama da morosidade em conseguir licenças ambientais no estado. “Os órgãos competentes não têm mão de obra disponível e, conhecedora da cadeia produtiva, e logo criam um desconforto na execução ou na deliberação das outorgas, justamente por falta de conhecimento”, contou.

Já o presidente da Comissão Nacional de Aquicultura da CNA, Eduardo Ono, atribui as dificuldades dos criadores à falta de legislação específica em cada estado, seguindo orientações do Conselho Nacional do Meio Ambiente.

“Em alguns estados da federação, a gente tem legislações próprias para licenciamento e regularização da aquicultura e em outros estados, pela ausência desse documento específico para atividade, o licenciamento acaba caindo dentro de um bolo geral de licenciamento de outras atividades. Muitas vezes o aquicultor recebe uma exigência de estudos ambientais que são os mesmos estudos demandados por um posto de gasolina. São coisas sem cabimento”, falou Ono.

Estes entraves vêm impedindo a expansão do setor.  O país produz 1,5 milhão de toneladas de pescado ao ano, apenas dois terços dos 2,2 milhões de toneladas consumidas anualmente. Para aumentar os números, a proposta é unificar e informatizar os pedidos de licenciamento ambiental.

“A proposta que nós temos é que esse processo passe a ser algo parecido com a declaração de Imposto de Renda de uma pessoa física, por exemplo. Tem um conjunto de regras claras e objetivas, um sistema informatizado para declarar o que precisa ser declarado e o próprio sistema faz uma primeira análise, cruzando com informação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e quem prestou as informações dentro da coerência, deveria ter uma licença ambiental automaticamente obtida”, disse Eduardo Ono.

Mesmo em estados que já possuem legislações específicas, os criadores encontram dificuldade para conseguir os licenciamentos ambientais. A Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap), criada em abril deste ano, vinculada à Casa Civil, diz que órgãos como Agência Nacional de Águas, Ibama e Marinha do Brasil também são responsáveis por emitir pareceres relacionados à implantação de estruturas de aquicultura, o que pode atrasar os processos.

“No caso da secretaria, nós tínhamos cerca de 2.182 processos e, de janeiro pra cá, nós conseguimos colocar todos eles no Sistema Nacional de Aquicultura de Águas da União. Com isso, nós efetuamos os pareceres de aquicultura e de geoprocessamento e atualmente estão na nossa carga somente os processos de 2018, os demais estão distribuídos nos demais órgãos competentes para os pareceres devidos”, concluiu João Crescêncio, diretor da Seap.

Produção de peixes em Rondônia. Foto: Ésio Mendes e Marcelo Gladson.



Governo cederá uso de águas sob domínio da União para projetos em aquicultura

São águas no mar e também em represas de usinas hidrelétricas que podem produzir 31 mil toneladas de pescado por ano


O governo federal vai ceder o uso de águas sob domínio da União para projetos em aquicultura, informou a Secretaria Geral da Presidência da República ontem (25/09). São 48 áreas em Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. São águas no mar e também em represas de usinas hidrelétricas. O leilão está programado para o mês de outubro.

De acordo com a Pasta, as áreas podem produzir 31 mil toneladas de pescado por ano. A concessão terá prazo de 20 anos, ao longo dos quais a União estima arrecadar R$ 616 mil. Atualmente, o consumo de pescado no Brasil é de 10 kg per capita, metade da média mundial.


domingo, 23 de setembro de 2018

O país que conseguiu recuperar um 'mar' que havia sido extinto


Para Madi Zhasekenov, o verão na costa do Mar de Aral traz lembranças nostálgicas. Quando ainda estava na escola, ele passava seus três meses de férias no porto perto de sua casa em Aralsk, no sudoeste do Cazaquistão, conversando com os pescadores enquanto os peixes do dia eram descarregados.

"Costumávamos fazer nossos próprios anzóis e depois ficávamos pescando à beira mar", relembra Zhasekenov, atualmente com 58 anos. "Pescávamos peixes pequenos e grandes; alimentávamos gatos e cachorros para nos divertir", completa.

Mas, quando Zhasekenov tinha 17 anos, uma tragédia aconteceu. Os níveis de água do Mar de Aral começaram a cair, enquanto a salinidade subiu rapidamente. Como resultado, todos os peixes que viviam ali morreram.

Ele lembra que um dos momentos mais difíceis foi quando teve de passar a comprar peixe para as refeições diárias de sua família.

"Não sabíamos como comprar peixe porque tínhamos nos habituado a pescá-los", diz. "Na primeira vez que fui ao mercado para comprá-lo, fiquei com uma sensação muito ruim."

No extremo oposto dali, no Uzbequistão, Marat Allakuatov, 47 anos, diz que tinha cinco ou seis anos quando viu navios no mar pela última vez.

Allakuatov morava em Moynaq, uma movimentada cidade na parte sul do Mar de Aral. Ali, o fundo do mar secou completamente. Só restam agora imensos depósitos de sal e redes de pesca abandonadas. A economia local evaporou junto com a água.

"Como o mar desapareceu, as pessoas que permaneceram lá ficaram desempregadas", diz Allakuatov. Ele agora trabalha em um hotel em Nukus, capital da república do Caracalpaquistão, uma região autônoma do Uzbequistão que engloba Moynaq. "A geração mais velha perdeu as esperanças no futuro."


Sem qualquer fonte de sustento, as comunidades das quais esses dois homens fizeram parte em extremos opostos do mar enfrentaram tragédias parecidas nos anos 90.

Mas, duas décadas depois, hoje se encontram em situações completamente diferentes. O Mar do Norte de Aral, no Cazaquistão, foi revitalizado. Junto com a água, veio o desenvolvimento econômico em Aralsk.

Já o Mar do Sul de Aral, no Uzbequistão, está praticamente seco.

Mas como as duas cidades tiveram destinos tão diferentes?


Renascimento das águas

Estendendo-se por mais de 67 mil km², o Mar de Aral já foi o quarto maior lago de água doce do mundo.

Mas as políticas agrícolas imprudentes da União Soviética nos anos 50 levaram a água de dois rios - o Amu Darya e o Syr Darya - a ser desviada para irrigar as estepes do deserto da Ásia Central.

O objetivo era aumentar a produção de algodão. Como consequência, os níveis de água caíram e as populações de sargos, carpas e outros peixes de água doce, outrora abundantes, foram dizimadas.

Hoje, o mar é um décimo do seu tamanho original e quase se dividiu em dois. Imitando a forma de um número oito fragmentado, o Mar do Norte de Aral - a metade superior do corpo de água - fica no Cazaquistão. Já o Mar do Sul de Aral, que consiste em uma faixa de água no oeste e uma bacia seca no leste, se localiza no Uzbequistão.


Na década de 1990, os dois corpos de água pareciam fadados a destinos semelhantes. Mas isso mudou quando o Banco Mundial entrou em cena com um projeto de resgate de US$ 87 milhões (R$ 355 milhões em valores atuais) no Cazaquistão.

O plano incluiu a construção de um dique de 12 km de comprimento ao longo do canal estreito que liga as duas partes, com o objetivo de reduzir a quantidade de água que jorra para o Mar do Sul. Melhorias nos canais existentes do rio Syr Darya, que corre para o norte a partir das montanhas Tian Shan, no Cazaquistão, também ajudaram a impulsionar o fluxo de água para o Mar do Norte de Aral.

Concluída no verão de 2005, a barragem de Kokaral - como o dique é conhecido - superou as expectativas do Banco Mundial, levando a um aumento de 3,3 m nos níveis de água em apenas sete meses, contra os dez anos calculados anteriormente por especialistas.

"Naquela época, não esperávamos um fluxo de água tão grande. Foi surpreendente", diz Masood Ahmad, líder da equipe do Banco Mundial que preparou e avaliou o projeto em 2001.

O renascimento do Mar do Norte de Aral impulsionou o retorno da indústria pesqueira em Aralsk. Em 2006, a produção anual de peixe totalizou 1.360 toneladas, principalmente solhas - uma espécie de água salgada de que os cazaques não gostam.

Em 2016, a Unidade de Inspeção de Peixes de Aralsk registrou 7.106 toneladas de peixes à medida que as espécies de água doce retornaram, incluindo o lúcio - valioso para os pescadores locais - sargos e bagres.

Talvez surpreendentemente, o governo cazaque tenha desempenhado um papel fundamental nesse processo de recuperação.

"A maioria dos governos costuma priorizar a geração de renda, como melhorar a irrigação para aumentar a produção agrícola ou o manejo da água, de forma a abastecer as cidades", diz Ahmad.

"Melhorias ambientais e ecológicas são a última coisa a que os governos dão prioridade, mas os cazaques fizeram isso", acrescenta.


Mudança de carreira

Para Aldanbek Kerinov, de 27 anos, o retorno da pesca ao Mar do Norte de Aral permitiu-lhe mudar de carreira. Taxista havia sete anos, ele ganhava cerca de 3 mil a 5 mil tengues (moeda do Cazaquistão) por dia (de R$ 32 a R$ 54).

Agora, ele trabalha com seus dois irmãos no lago. Durante o inverno, em fevereiro, eles pescam cerca de 20 kg diários de lúcio-poleiro com suas redes submersas sob a superfície congelada do Mar de Aral. Extremamente popular entre os cazaques, o peixe é vendido por cerca de 650 tengues (R$ 7) o quilo para processadoras de alimentos e outros compradores.

"No inverno, às vezes, pescamos o equivalente a 50 mil tengues (R$ 533,70) por pessoa", explica Kerinov. "Ou seja, 150 mil tengues (R$ 1,6 mil) para nós três. Preferimos pescar do que dirigir o táxi", destaca.

Kerinov era muito novo para ter visto a água do mar batendo contra o deque do porto de Aralsk. A costa se localiza a cerca de 20 km da cidade, ou duas horas de carro através da neve espessa do inverno.

"Sonhamos com o dia em que o mar chegará a Aralsk, daí não precisaremos dirigir tanto", diz Kerinov. "Todos os dias, pescaríamos apenas da porta da nossa casa."

Segundo Ahmad, essa é uma possibilidade real. Devido à melhoria do fluxo de água no rio Syr Darya, cerca de 2,7 bilhões de metros cúbicos de água por ano transbordam da barragem de Kokaral e jorram para a parte sul do mar.



"Mas esse volume excedente que transborda evapora e se perde", diz ele. "Não tem tanto valor ecológico ou benefício. Desde que a represa de Kokaral foi construída em 2005, mais de 30 bilhões de metros cúbicos jorraram do norte do Mar de Aral para o sul."

Aumentar o tamanho dos diques em mais quatro metros ajudaria a manter mais 15 bilhões de metros cúbicos de água no Mar do Norte de Aral, acrescentou ele. Isso estenderia a área coberta pelo mar, atualmente em 800 km², por outros 400 km².

"Aumentaria em 50%", diz Ahmad. "Isso levará cerca de quatro, cinco anos."

Tal projeto foi apresentado como parte de uma segunda fase do plano do Banco Mundial, mas está engavetado. Segundo o Banco Mundial, ainda falta a aprovação do governo do Cazaquistão.

Do outro lado da fronteira no Uzbequistão, a história é muito diferente.

Embora o Banco Mundial tenha trabalhado em alguns projetos para restaurar os lagos existentes ao redor do Mar do Sul de Aral, como o Lago Sudoche, o sucesso foi menor.

O principal obstáculo parece ser a demanda dos uzbeques por água, já que o rio Amu Darya é usado para fins agrícolas e, por essa razão, não tem fluxo suficiente para encher o Mar do Sul de Aral.

A crescente dependência da produção de algodão para movimentar a economia local também prejudicou as tentativas de recuperação. De 1930 a 1990, o Uzbequistão forneceu mais de dois terços do algodão produzido na União Soviética. O país ocupava o quinto lugar entre os 90 maiores produtores de algodão do mundo e foi o segundo maior exportador de fibra dessa matéria-prima para os EUA.

Hoje, o Uzbequistão ainda é o quinto maior exportador de algodão do mundo depois de EUA, Índia, Brasil e Austrália.

"O governo poderia ter recuperado o Mar de Aral do Sul, mas, para isso, acabaria desempregando milhares de agricultores", diz Ahmad. "Você não pode abrir mão do que gera renda para o seu país", acrescenta.
Em 2015, a bacia oriental do Mar do Sul de Aral secou completamente e a água nunca retornou.
"É uma pena", lamenta Allakuatov. "Acho que a situação econômica é mais prioritária agora do que manter a água, a natureza ou o meio ambiente".

Tempestades de sal

Ainda há empregos disponíveis em Moynaq. O leito oceânico seco proporcionou novas oportunidades para as empresas de gás natural que esperam explorar os recursos localizados no subsolo.

Mas, embora a situação tenha permitido a essa nova indústria manter o desemprego sob controle, também gerou novos temores entre os moradores da cidade.

A falta de água afetou o clima da região, alterando a temperatura e o regime de chuvas. O leito marinho exposto também contém muito sal e sedimentos, enquanto o uso de fertilizantes pelos produtores de algodão ao longo das décadas fez com que substâncias químicas nocivas se concentrassem no solo.


Em dias de ventos fortes, tempestades de poeira sufocantes se formam, atingindo vilarejos do entorno. Estudos associaram a exposição regular a essa poeira ao aumento de doenças respiratórias em pessoas que moram nas proximidades.

"Há poeira saindo do leito do Mar de Aral, então, esse sal está se espalhando por toda parte - não apenas no território de Caracalpaquistão, mas também no noroeste do Turcomenistão", diz Allakuatov. "As pessoas estão sofrendo por causa desse excesso de sal."

Do outro lado da fronteira, em Aralsk, o mar continua tendo papel central na vida de Zhasekenov. Como diretor do Museu Regional de Aralsk e do Museu dos Pescadores - posto que herdou de seu falecido pai - Zhasekenov conhece toda a história do mar e sonha com o retorno da água ao antigo porto, onde seu museu está localizado.

Por enquanto, ele diz estar feliz porque o regresso do Mar do Norte de Aral lhe permitiu reviver alguns de seus antigos passatempos. E permanece otimista de que o mar voltará à glória de outrora.

"Hoje, se pegar um atalho, o mar está a apenas 14 km de distância e poderei chegar na casa de alguns pescadores. Lá, eles nos darão alguns peixes. Isso me faz lembrar da minha infância", diz.

"Acredito que vou ver a água no porto novamente", conclui.

Fonte: www.bbc.com.

Governo e Unitins estudam criação de curso de Engenharia de Aquicultura no Tocantins

Iniciativa é da Unitins e conta com participação da Seagro

Universidade Estadual do Tocantins analisa criação do curso de Engenharia de Aquicultura.


Tocantins (TO) - Em apoio ao desenvolvimento da cadeia produtiva da piscicultura no Estado, o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária (Seagro), integra a Comissão Estadual para criação do curso de bacharelado em Engenharia de Aquicultura, no Tocantins. A iniciativa para a criação do curso é da Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), por meio do ato publicado em 19 de abril de 2018, no DOE-TO nº 54.095.

O presidente da Comissão para criação do curso, Thiago Magalhães de Lazari, professor da Unitins, explicou que a ideia ainda está em fase preliminar de estudo, que agora o grupo começará a fazer a análise da viabilidade, com mapeamento das potencialidades, debates, fusão de ideias e construção de um diagnóstico da possibilidade de criação do curso.

A Seagro fomenta o desenvolvimento da cadeia produtiva da piscicultura no Tocantins. O diretor de Políticas para Aquicultura e Pesca, Alexandre Godinho, vê como excelente a iniciativa da Unitins e destaca a importância da criação do curso para a atividade no Estado. “A cadeia da piscicultura é como se fosse uma corrente: produtores de alevinos, fábrica de ração, produtores de peixes para abate, frigoríficos, consumidores, isso só para citar alguns. Esses elos agora terão o curso de Engenharia de Aquicultura, que será importante e vital para o crescimento da cadeia produtiva, e reforçará o desenvolvimento sustentável da atividade, por meio da mão de obra que será formada, dentro da realidade do próprio Estado e proporcionará um crescimento em bases sólidas e seguras”.

O gerente de Pesca da Seagro, Thiago Tardivo, informou que esse será o primeiro curso de nível superior, do Estado, com ênfase em aquicultura e que a Seagro participa da comissão para apoiar a estruturação da grade curricular do curso, de modo que possa auxiliar em todo o desenvolvimento da cadeia produtiva.

O titular da Seagro, Thiago Dourado, parabenizou a iniciativa da Universidade em criar o curso e disse que o mesmo trará ganhos ao desenvolvimento da piscicultura no Tocantins. “O curso trará melhorias na qualidade dos serviços que serão prestados aos piscicultores no futuro, formando profissionais acostumados a ver as atividades da forma como são feitas aqui no Tocantins”.

“E no apoio técnico e financeiro à realização de eventos que fomentam a cadeia produtiva, na elaboração e na gestão do Conselho Estadual de Desenvolvimento da Piscicultura, entre outras atividades, que o curso de engenharia de aquicultura se somará, de forma fundamental, aos diversos setores que compõem a cadeia produtiva da piscicultura, estruturando-os por meio da geração de mão de obra especializada”, finalizou o Secretário.

Fonte: www.unitins.br.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Doenças impedem crescimento da produção de camarões no Brasil

Pesquisadora da Embrapa abordou formas de manejo indicadas na prevenção de doenças infecciosas

Carcinicultura. Fonte: Fernanda Farias/Canal Rural.
Doenças altamente letais e contagiosas têm prejudicado fortemente a expansão da produção de camarões (carcinicultura) no Brasil. Mas com o manejo adequado é possível manter a lucratividade do negócio. Para abordar essas técnicas, a pesquisadora da Embrapa Meio Norte Alitiene Moura Lemos Pereira apresentou o tema “Convivendo com as Enfermidades da Carcinicultura no Brasil”, na última quarta-feira (19), durante o AquaCiência 2018, em Natal (RN). O congresso, que reúne alguns dos maiores especialistas em aquicultura do país, permanece no Centro de Convenções até o próximo dia 21 de setembro.

São cinco tipos de vírus presentes no país, sobretudo no Nordeste, nos principais polos produtores. Um dos mais letais é o WSSV, que provoca a mancha branca no camarão. Detectado pela primeira vez na Ásia em 1993, dois anos depois já atingia os Estados Unidos e logo chegou à América do Sul. A doença aniquilou a produção do crustáceo no Ceará em 2017. Em seis meses, 30 mil toneladas de camarão foram perdidas; o equivalente a 60% da produção do período. Além do Ceará, ela tem afetado criações de camarão no Rio Grande do Norte, em Sergipe, no Piauí, na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia. Nem Santa Catarina escapou do terrível vírus, que atinge a fase inicial de desenvolvimento dos camarões, causando sua calcificação. Como consequência, os crustáceos morrem e contaminam todo viveiro, o que gera sérios prejuízos ao produtor.

Segundo Alitiene, as doenças têm sido consideradas como um forte fator de restrição ao crescimento, expansão e intensificação da aquicultura no Brasil. “O conhecimento dos problemas sanitários e seus riscos associados fornece subsídios para minimizar seus efeitos e continuar com a atividade de forma sustentável e lucrativa”, destaca ela, lembrando que em ambientes endêmicos com patógenos altamente contagiosos e mortais é necessário mais investimentos financeiros, conhecimento técnico, uso de aditivos e a execução de boas práticas.

Por meio da aplicação de normas e procedimentos adequados, é possível atuar na prevenção de doenças infecciosas do crustáceo. “É quando o produtor deve fazer um ambiente isolado, onde a doença não entra”, diz ela. Solo coberto com lona, cobertura dos tanques e água esterilizada são alguns dos recursos utilizados. “Assim você consegue evitar a entrada de doenças mesmo se a propriedade estiver em local contaminado”, ressalta ela.

Alitiene faz parte do grupo de pesquisadores do BRS Aqua, o maior projeto de pesquisa em aquicultura já desenvolvido no país. Nos próximos dois anos, ela pretende identificar quais são os fatores de risco para o desenvolvimento da mancha branca no camarão. 

O BRS Aqua envolve 22 centros de pesquisa, 50 parceiros públicos e 11 empresas privadas – números que ainda devem aumentar ao longo de sua duração. Os investimentos chegam a R$ 57 milhões para quatro anos de trabalho. A maior parte – R$ 45 milhões – será aportada pelo BNDES Funtec – linha de crédito não reembolsável destinada a projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação.

 Fonte: www.embrapa.br.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Estudo disponibiliza boas práticas em aquaponia

Produção de hortaliças com utilização da aquaponia. - Foto: Julio Queiroz.

A aquaponia – integração da aquicultura com a hidroponia – se consolida como uma importante atividade para o agronegócio. Como o sistema tem por base a reciclagem da água, ele minimiza a geração de efluentes ricos em nutrientes e evita, assim, a eutrofização dos corpos d’água.

Embora apresente várias vantagens com relação aos métodos tradicionais, ainda é preciso superar vários gargalos tecnológicos relacionados à sua implantação e funcionamento. Também é necessário aprimorar o entendimento dos processos físicos, químicos e microbiológicos para tratamento, manutenção e monitoramento da qualidade da água, da sanidade dos peixes e das plantas.

Nesse sentido, pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP) e da Symbiotec Ltda., indicam um conjunto de Boas Práticas de Manejo (BPM), que podem ser aplicadas à produção em múltiplas escalas, assim como em regiões com restrições de água, áreas rurais e periurbanas (Série Documentos, completa aqui.)

O objetivo é promover o aprimoramento do manejo e dos índices de produtividade e sustentabilidade de forma contínua, com base em indicadores de desempenho zootécnico, fitotécnico e econômico.

Entre esses índices, estão a necessidade de manutenção – fator determinante para o sucesso da produção – além da suplementação nutricional para os vegetais cultivados, composição da ração, temperatura e demais parâmetros de qualidade da água.

Conforme o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Julio Queiroz, o indicador econômico é muito importante. "Deve-se observar os valores de mercado praticados, assim como o valor agregado pelo sistema aquapônico. Isso é valido para cada produto de origem animal e vegetal nas suas diferentes fases, como a venda de alevinos ou juvenis de peixes, e, sobretudo de produtos vegetais diferenciados como o baby leaf -  hortaliças como alface, agrião e rúcula, entre outras espécies, com folhas ainda não expandidas completamente e colhidas precocemente e microgreens – micro vegetais comestíveis – hortaliças, ervas aromáticas e legumes, que são surpreendentes em termos de sabor e fazem bem à saúde, já que os pequenos vegetais apresentam de quatro a 40 vezes mais nutrientes do que na sua fase final".

Queiroz explica que uma das primeiras providências é avaliar a eficiência dos filtros, com um teste rápido para determinar a concentração de amônia, nitrito e nitrato na água. "A amônia é o principal resíduo do metabolismo dos peixes e da degradação das rações. O seu acúmulo resulta na redução da produção, no aumento do estresse dos peixes e, consequentemente, no aumento da ocorrência de doenças", diz o pesquisador.

Também é necessário analisar a cada 15 dias os compostos nitrogenados – amônia, nitrito e nitrato, e instalar, na medida do possível, sensores de temperatura, pH e oxigênio dissolvido para monitoramento de forma contínua. Se a concentração de nitrato estiver elevada por semanas consecutivas, uma parte da água deverá ser substituída por água limpa.

O conhecimento do potencial do efluente gerado pelos peixes, em relação à concentração de nutrientes exigidos pelas hortaliças, é essencial. A determinação ou o conhecimento da digestibilidade da ração pode facilitar a estimativa da densidade de peixes mais adequada, o que também permite determinar o valor nutricional de dietas, ingredientes dietéticos e quantificar o volume de fezes.

Outros pontos importantes são a estimativa da biomassa inicial de peixes em função da quantidade máxima de plantas que poderá ser cultivada, e a realização de biometria a cada 30 dias com cerca de 5% dos peixes.

Os critérios adotados, atualmente, pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) definem que o animal precisa estar sadio, seguro, saudável, confortável, livre para expressar comportamentos naturais e sem sentimentos negativos. Segundo o Mapa, é necessário estar atento às questões éticas dos consumidores, demonstrando a importância da inclusão do bem-estar dos animais.

Um dos aspectos primordiais para nortear o desenvolvimento das BPM deve assegurar um número satisfatório de plantas com padrão mínimo de tamanho, peso e coloração exigido pelo mercado, ou seja, a quantidade de plantas produzidas não deve ser o fator determinante para definir a eficiência de um determinado sistema de hidroponia, mas sim a quantidade de plantas com valor de mercado. Além disso, deve-se observar o tempo gasto para as plantas alcançarem o tamanho comercial e, ainda, a ausência de ocorrência de doenças.

Considerando que nos sistemas de aquaponia a utilização de solução nutritiva é limitada a suplementações pontuais, a adição de pesticidas ou fungicidas químicos não poderá ser feita, de modo que os métodos alternativos devem ser utilizados para controle de doenças.

É preciso transferir esses conhecimentos por meio da metodologia fazendo e acompanhando a evolução do sistema, continua o pesquisador, "dessa forma os produtores estarão aptos a construir e reproduzí-los. Isso pode ser feito por meio de cursos, dias de campo e workshops, abordando os aspectos teóricos e práticos sobre montagem, instalação, manejo e manutenção, e procedimentos para otimizar os índices de produtividade e rentabilidade; aspectos conceituais sobre manejo produtivo e manutenção da qualidade da água; e BPM sobre prevenção de doenças de peixes e das plantas, requisitos mínimos para escolha do local, definição de escala de produção, conceitos fundamentais sobre os sistemas de recirculação, construção e uso dos filtros de decantação e biológicos, controle e manejo alimentar, além de criar oportunidades para trocas de experiências com aqueles que já atuam nesse segmento", explica Queiroz.

Boas práticas de manejo para sistemas de aquaponia é de autoria de Julio Queiroz, Alfredo Luiz, Márcia Ishikawa e Rosa Frighetto (Embrapa Meio Ambiente) e Thiago Freato da Symbiotec Ltda.

Fonte: www.embrapa.br.

Fundo Amazônia tem projetos da Embrapa Pesca e Aquicultura complementares a outras iniciativas da instituição

O pirarucu é tema de diferentes projetos que estão no início - Foto: Jefferson Christofoletti

Tocantins (TO) - A Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas-TO) lidera quatro projetos que estão começando e são financiados pelo Fundo Amazônia. São trabalhos em diferentes áreas e que envolvem parceiros no Norte do país, principal região de alcance do fundo. A operacionalização do Projeto Integrado para a Produção e o Manejo Sustentável do Bioma Amazônia está a cargo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Ao todo, a Embrapa aprovou 19 propostas. São 18 projetos que trabalham em diferentes vertentes, mas sempre buscando a redução do desmatamento, a recuperação de áreas degradadas e o uso sustentável do bioma. O outro projeto trabalha com comunicação e tem caráter transversal; portanto, procura transitar pelos demais projetos na perspectiva de divulgar seus resultados de maneira estratégica e mostrando complementaridade entre eles.

Isso tudo se dá por meio da produção e da socialização de conhecimentos e de tecnologias em projetos e em ações de pesquisa, de desenvolvimento, de transferência de tecnologia, de intercâmbio de conhecimentos e de comunicação rural. Foram priorizados territórios (regiões geográficas onde há comunidades tradicionais, assentamentos rurais e agricultores familiares) na Amazônia Legal, que engloba os sete estados do Norte do país, além do Mato Grosso e de parte do Maranhão.

Dos quatro projetos aprovados pela Embrapa sediada no Tocantins e que estão no início, três são na área de aquicultura e um na de pesca. O Peixe Mais Amazônia, liderado pela analista de transferência de tecnologia Marcela Mataveli, vai trabalhar com as espécies nativas tambaqui e pirarucu. Estão previstas ações presenciais no Tocantins, no Pará, em Rondônia e no Mato Grosso e ações de educação a distância em todo o bioma. Além disso, por meio do projeto deve ser criado um aplicativo móvel para divulgação de informações sobre as duas espécies, buscando popularizá-las e ampliar seu consumo.

Outro projeto aprovado na área de aquicultura, este sob a liderança da pesquisadora Luciana Shiotsuki, trata da fundação de bases genéticas para um futuro programa de melhoramento de tambaqui, o peixe nativo mais produzido em todo o país. O AmazonGen vai formar, organizar, orientar e acompanhar três núcleos de melhoramento genético nos estados de Rondônia, Amazonas e Tocantins. Nesses locais, o germoplasma de tambaqui será caracterizado com relação a três aspectos: diversidade, estrutura genética e parentesco genético. Também está previsto um aplicativo, em que serão organizados e armazenados dados reprodutivos coletados nos núcleos.

Inteligência territorial e pesca – O terceiro projeto aprovado no Fundo Amazônia refere-se a um Site (Sistema de Inteligência Territorial Estratégica) para a aquicultura na região. A ideia é reunir dados e informações hoje dispersos em diferentes fontes e locais, dando-lhes mais confiabilidade e permitindo, por exemplo, estudos mercadológicos e socioeconômicos. A cadeia produtiva da piscicultura continental amazônica como um todo será o recorte do projeto. O Site Aquicultura, liderado pelo analista de pesquisa Balbino Evangelista, terá informações de caracterização de diferentes quadros: natural, agrário, agrícola, infraestrutura, socioeconômico e aquícola. Tudo isso visando à gestão da aquicultura na Amazônia.

Já na área de pesca, a Embrapa sediada no Tocantins vai coordenar projeto que envolve monitoramento e manejo participativo da pesca artesanal como instrumentos de desenvolvimento sustentável em comunidades de três estados: Tocantins, Pará e Roraima. O Propesca, liderado pelo pesquisador Adriano Prysthon, vai monitorar de maneira piloto o desembarque de pescado por dois anos seguidos e simultaneamente em duas regiões da Amazônia: o médio Araguaia (envolvendo os estados do Tocantins e do Pará) e o Sul roraimense. Dez municípios, sendo quatro paraenses, três tocantinenses e três roraimenses, estão envolvidos no projeto, que utilizará modelo amostral já em uso em projeto no Pará, ajustando-o aos municípios dos outros estados.

Além desses quatro projetos, que lidam diretamente com pesquisa e com transferência de tecnologia, a Embrapa Pesca e Aquicultura está envolvida com o Amazocom. Integrado principalmente por profissionais de comunicação e de transferência de tecnologia, é um projeto transversal e visa a uma divulgação mais estratégica, direcionada aos públicos dos territórios priorizados pelos projetos do Fundo Amazônia e utilizando metodologia participativa. Entre as ações previstas, está a realização de oficinas de comunicadores populares nos nove estados da Amazônia Legal. Cabe à Embrapa Pesca e Aquicultura a coordenação das ações nos territórios trabalhados no Tocantins.

Complementaridade de projetos – Os projetos em que a Embrapa Pesca e Aquicultura está envolvida no âmbito do Fundo Amazônia apresentam, em certa medida, complementaridade com outros projetos que ou já estão em execução ou estão prestes a entrar nessa etapa. Um deles é o BRS Aqua, que trabalha com ações estruturantes para o desenvolvimento da aquicultura brasileira com foco em quatro cadeias produtivas: tambaqui, camarão, bijupirá e tilápia. Este é um projeto em parceria da Embrapa com o BNDES, seu principal financiador, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap), órgão ligado à Presidência da República.

Há ações do BRS Aqua programadas para estados fora da Amazônia Legal. Nesse sentido, esse projeto e os que a Embrapa Pesca e Aquicultura está começando no âmbito do Fundo Amazônia se complementam, tanto em termos de regiões geográficas de atuação, como com relação a espécies trabalhadas. Complementaridade semelhante acontece entre os projetos do Fundo Amazônia e outros que a Embrapa Pesca e Aquicultura está começando dentro do Aquitech, que reúne projetos em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Ao todo, são seis projetos dentro dessa parceria, sendo quatro liderados pela Embrapa Pesca e Aquicultura e dois pela Embrapa Meio Norte (Teresina-PI, com campo experimental em Parnaíba-PI).

Eric Routledge, chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pesca e Aquicultura, mostra essa complementaridade. Segundo ele, “a gente tem seis projetos que vão entrar em execução. Um se refere ao sistema de inteligência territorial da aquicultura, que é uma iniciativa que a gente vai ampliar e complementar o esforço dessa iniciativa que já conta com financiamento do projeto BRS Aqua e do projeto equivalente que tem no Fundo Amazônia. São projetos que se somam com o mesmo objetivo”. Ele continua: “o segundo projeto é em relação à questão de tecnologias pra ostra nativa, pra ostra do mangue, principalmente pra ampliar a rede de parceiros que o projeto MP2, que a Embrapa Meio Norte coordena, pra gente – a Meio Norte e nossa Unidade – poder estar tendo mais perspectiva de amplificar a rede de parcerias”.

Outro projeto é com o pirarucu, espécie nativa amazônica que já foi objeto de pesquisa da Embrapa, também com apoio do Sebrae. A proposta é dar seguimento ao que foi estudado, com foco na reprodução da espécie. Já o quarto projeto ligado ao Aquitech é “coordenado pela Embrapa Meio Norte e vai focar o cultivo de camarão em bioflocos, sistema de produção onde há pouca ou nenhuma renovação de água”, relata Eric, que acrescenta os dois outros projetos: um com tilápia, a ser desenvolvido no Nordeste do país, e um com tambaqui, “que vai ter um recorte territorial focado no Tocantins e em Goiás, com sistema de produção em tanque-rede e uma parceria com a Universidade Federal de Goiás”.

Fonte: www.embrapa.br.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Pesquisadores simulam digestão humana para detectar nutrientes e contaminantes em pescado


Fabíola Fogaça, pesquisadora do Laboratório de Bioacessibilidade da Embrapa Agroindústria de Alimentos. Foto: Tainá Fogaça Souza.


Para avaliar os impactos associados ao consumo de pescado para a saúde humana, a Embrapa e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), vinculado ao Ministério do Mar de Portugal, desenvolveram uma técnica de bioacessibilidade que permite avaliar os níveis de nutrientes ou contaminantes disponíveis para absorção pelo organismo humano, por meio da simulação in vitro do processo digestivo.

O projeto estudou a sardinha (Sardinella sp.), a truta (Onchorrynchus mykiss), o camarão marinho (Litopenaeus vanammei), as ameijoas (Meretrix lyrata) e as macroalgas marinhas (Ulva sp.). O pescado foi adquirido em supermercados e produções comerciais para simular uma situação real de consumo.

Fazenda de carcinicultura: Foto: Fabíola Fogaça.

A pesquisa revelou que peixes, moluscos e crustáceos apresentam uma taxa de digestão da proteína acima de 70%, enquanto a das macroalgas é de 39%. Esses percentuais representam a quantidade desses alimentos efetivamente digerida pelo organismo humano.

Por seu lado, as ameijoas apresentaram uma concentração elevada de minerais, porém baixa bioacessibilidade desses nutrientes. Para esses moluscos, a bioacessibilidade dos macroelementos, como cálcio, fósforo, potássio e ferro, é menor se comparada à dos microelementos, como cobre, zinco e selênio.

As sardinhas e as trutas mostraram-se ótimas fontes de ácidos graxos do tipo ômega 3, um nutriente fundamental para as funções cerebrais e cardíacas. O estudo revelou ainda que o consumo de trutas, sardinhas, camarão marinho, ameijoas e algas marinhas não acarreta risco para a saúde com relação à ingestão de metais e poluentes orgânicos persistentes.

Segurança do pescado

A dieta mediterrânea à base de pescado, salada, vinho e azeite - seguida pelos portugueses e outros países da região do Mar Mediterrâneo - é reconhecida como uma das mais saudáveis do mundo. O pescado contém enormes quantidades de nutrientes essenciais, como vitaminas, proteínas de alto valor biológico (alta digestibilidade), ácidos graxos ômega-3 e minerais.

Os nutricionistas recomendam o consumo de pescado duas a três vezes na semana. Por outro lado, por serem espécies aquáticas, podem acumular substâncias nocivas para a saúde que estão presentes no meio ambiente, como metais, toxinas, resíduos de defensivos agrícolas e outros tipos de poluentes orgânicos. Contudo, a questão-chave é descobrir se a quantidade dos contaminantes e nutrientes presentes no alimento representa um benefício ou risco para os consumidores. “Quantificar a bioacessibilidade de nutrientes e contaminantes pode tornar mais realista a avaliação de risco ou benefício associado ao consumo de pescado”, afirma Fabíola Fogaça, pesquisadora do Laboratório de Bioacessibilidade da Embrapa Agroindústria de Alimentos.

A concentração dos contaminantes e nutrientes nos alimentos pode não se refletir em sua bioacessibilidade e biodisponibilidade oral, ou seja, o organismo não absorverá, necessariamente, toda a quantidade de nutrientes ou contaminantes encontrada nos alimentos. Bioacessível é a porção do composto liberada do alimento para o fluido gastrointestinal após a digestão que se torna disponível para absorção pela mucosa intestinal. A bioacessibilidade explica como o alimento se comporta após a ingestão oral e quais efeitos pode causar no organismo humano. Por isso, a análise de bioacessibilidade é atualmente um dos métodos que antecede os estudos clínicos in vivo (com cobaias ou humanos), contribuindo  para a segurança e qualidade do alimento para o consumidor.

Consumo em alta

O peixe é uma das commodities alimentares mais negociadas em todo o mundo, movimentando aproximadamente 142 bilhões de dólares em 2016. Portugal é o terceiro maior consumidor de pescado per capita do mundo e o maior da União Europeia, com uma média de 55 quilos de pescado ao ano por habitante. No Brasil, embora varie em cada região, a média de consumo é de apenas dez quilos ao ano, índice bem abaixo dos 12 quilos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Nas regiões Norte e Nordeste do País, o consumo de pescado é significativamente maior do que na região Centro-Sul, que apresenta média anual de cinco quilos por habitante, segundo estatísticas da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

A pesquisadora Fabíola Fogaça realizou essa pesquisa na Divisão de Aquicultura, Valorização e Bioprospeção do IPMA, em parceria com o Laboratório Associado para Química Verde da Rede de Química e Tecnologia do Instituto Superior de Engenharia do Porto (Requimte/LAQV), o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa) e o Laboratório de Física Atômica, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Lisboa (Ulisboa), durante período de quase dois anos de estágio pós-doutoral, dentro do Programa Cientista Visitante da Embrapa.

A primeira fase consistiu no acompanhamento de análises e experiências para aprendizado das técnicas e práticas realizadas em espécies de pescado portuguesas: sardinha, truta, ameijoas, camarão marinho e alga marinha.

Simulação do sistema digestivo

Em seguida, iniciou os testes in vitro (em laboratório) para simular a digestão de pescado em um modelo estático, buscando identificar o que fica bioacessível no organismo em termos de nutrientes (minerais e ácidos graxos) e contaminantes (metais e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos). O método estático de digestão utiliza tubos de ensaios para simular a digestão na boca, estômago e intestino delgado, com a vantagem de não expor humanos ou animais aos contaminantes.

A digestão é apenas uma etapa da bioacessibilidade, que deve ser acompanhada por análises que determinam as concentrações dos elementos antes e após a simulação in vitro para o cálculo da percentagem bioacessível. “A bioacessibilidade, com métodos analíticos de alta performance, se mostrou adequada nos estudos para o controle de qualidade dos produtos de origem animal com base na análise de perigos e resíduos”, conta Fogaça.

Essa metodologia reduz o custo da pesquisa ao substituir o uso de animais como modelos experimentais. Por outro lado, por ser um método relativamente novo, requer muitos testes para sua validação. É preciso desenvolver ferramentas específicas para a determinação dos principais nutrientes e contaminantes em cada alimento para possibilitar a avaliação de riscos e benefícios associados ao seu consumo.

“Cada tipo de pescado exigiu ajustes nas concentrações de sais e enzimas no método de simulação do trato gastrointestinal, algo que o organismo humano realiza automaticamente. Não é fácil simular o metabolismo humano in vitro. Trabalhamos na base da tentativa e erro até conseguirmos nos aproximar da realidade”, conta a pesquisadora.

As análises realizadas indicaram que os moluscos possuem uma alta concentração de minerais por serem animais filtradores, acumulando impurezas presentes na água do mar, mas o seu consumo não acarreta risco para a saúde, uma vez que a bioacessibilidade desses elementos foi muito baixa: 0% para cálcio e potássio; 10% para zinco; 20% de mercúrio e 40% selênio, ou seja, o organismo humano poderia absorver somente 40% do total de selênio encontrado em moluscos.

Já na truta a bioacessibilidade foi maior: 80% para arsênio e 40% a 60% para selênio. Para o camarão marinho, foi de 80% para arsênio e de 20% para cálcio e fósforo. “Utilizamos equipamentos muito sensíveis e, felizmente, não encontramos nenhum nível de contaminante acima do permitido pela legislação europeia”, destaca Fogaça.

De acordo com ela, também não há risco associado ao consumo de trutas, sardinhas, camarão marinho, ameijoas e algas com relação aos elementos tóxicos avaliados, ficando de sobreaviso o consumo de sardinha frita e alga tostada acima de duas porções semanais, por causa do seu maior teor de arsênio. As sardinhas e as trutas mostraram-se ótimas fontes de ácidos graxos do tipo ômega 3.


Fonte: www.embrapa.br.