sábado, 14 de novembro de 2015

Consumo em um ‘mercado contestado’: reflexões sobre o caso do pescado no Brasil

Marie Anne Najm Chalita, pesquisadora científica do Instituto de Pesca, Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, outubro 2015 

O mercado do pescado é caracterizado como ‘mercado contestado’. Ele se estrutura concomitantemente sobre objetivos de preservação da biodiversidade e sobre disputas em torno da exploração dos recursos pesqueiros. O bem transacionado é natural - não excludente e rival -, e mobiliza direitos de propriedade públicos tanto nas águas marinhas quanto nas continentais. Os processos de coordenação que buscam atentar para uma relativa e necessária homologia entre produção e consumo esbarram, desta maneira, em uma série de falhas, isto é, demonstram-se incapazes de distribuir recursos de maneira eficiente. 


O Estado, através de sua função alocativa dos recursos, intervém diretamente no processo produtivo - ofertando o bem através da legislação e das políticas públicas, visando evitar ou minimizar o efeito da pesca predatória. Dados os limites da capacidade de suporte e pressão sobre a biodiversidade da pesca extrativista, a aquicultura vem sendo incentivada como forma de criar economia de escala. Entretanto, a não ser em condições muito especiais e altamente regulamentadas, o cultivo resulta em impactos ambientais de diferentes graus e enfrenta a falta de pacotes tecnológicos para espécies nativas. 

Dado o contexto de informações imperfeitas no qual ocorre a atividade pesqueira, princípios da precaução são preferencialmente defendidos no intuito de minimizar os riscos das atividades. Seus dispositivos de qualidade que operam neste mercado são incipientes em razão da existência de distintas esferas de decisão governamental com atribuições e metas distintas, resultando em uma dominância daqueles de natureza sanitária. 

Duas posições opostas concorrem entre si como opções na gestão sustentável dos recursos pesqueiros. Uma mais conservadora via mecanismos de controle e comando que se resume na legislação e outras normas definidoras dos usos e acessos ao pescado. E a outra opção é a via preço, a qual demanda uma arbitragem intertemporal para que a viabilização das trocas econômicas que se deem no presente possibilite revendê-los no futuro a um preço maior. Ambas enfrentam dificuldades como a ação individual dos agentes, o rumo e ritmo indeterminados do progresso técnico e o desconhecimento da real dimensão dos estoques na natureza, além das dificuldades de fiscalização. O preço final arbitrado é definido, portanto, dominantemente pelo seu custo de obtenção, que é formado por dois componentes: o custo de cultivo ou extração e o custo de descoberta, sempre dependendo das incertezas quanto às complexas interações ecológicas que ocorrem nos ecossistemas e às disputas sociais e econômicas pelos mesmos. 

A difícil equação entre produção e preservação depara-se, ao mesmo tempo em que corroboram, com um elevado grau de informalidade nas transações do mercado: dificuldades de integração vertical dos agentes econômicos (pescadores, armadores, indústrias, intermediários e varejistas), resultando em uma dominância de operações no mercado spot, sem estabelecer relações contratuais estáveis. A diminuição dos estoques e, em consequência, da produção é que gera desestímulo ao esforço de pesca. Recompondo-se os estoques, dá-se nova elevação da atividade pesqueira. Os ciclos econômicos da produção e os investimentos financeiros em algumas artes de pesca mais específicas e seletivas podem encerrar-se no prazo de uma geração, caracterizando abandono da atividade. 

O peso destes constrangimentos estruturais e naturais pode ser observado ao analisar-se o consumo do pescado no Brasil por ser afetado diretamente não apenas pela oferta restrita do alimento como, também, pelo fato de que o consumo de um indivíduo diminui o estoque disponível para os outros e pelos entraves na definição da qualidade do mesmo, uma vez que suas características exógenas e endógenas são pouco conhecidas, o que intensifica a fragilidade das trocas econômicas no mercado. 

O baixo consumo de pescado per capita decorre da baixa aquisição a nível familiar e não do baixo consumo per capita. Há redução da quantidade demandada de pescado quando o preço deste produto eleva-se e há aumento de seu consumo quando a renda disponível para a aquisição de proteína animal eleva-se. O aumento na demanda de pescado sempre ocorre quando há um aumento no preço de um dos todos os bens substitutos (carne bovina, suína, aves, ovos e leite). O consumidor brasileiro é, portanto, mais sensível a variações positivas na renda para o aumento do consumo de pescado do que para variações negativas, ou redução, no preço do pescado. 

Observam-se contrastes regionais na quantidade total consumida no país, onde a região Norte responde por uma taxa de consumo muito superior às regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. As menores faixas de renda consumidoras de pescado localizam-se nas regiões Norte e Nordeste. Em termos relativos, no entanto, faixas de renda maiores consomem mais pescado e a preços mais elevados que, no entanto, englobam apenas 10% da população brasileira, concentrada no Sul e Sudeste. 

Estes elementos gerais indicam que, apesar da falta de hábito do brasileiro no consumo de pescado, a despeito de nas regiões Norte e Nordeste ser determinante a disponibilidade e proximidade do pescado, nas regiões Sudeste e Sul, maiores consumidoras, a elevação/restrição do consumo vai depender crescentemente de negociações entre razão econômica e razão preservacionista. 

Frente ao questionamento que o mercado contestado do pescado impõe à ciência econômica, principalmente quanto à necessária demarcação e fortalecimento da esfera pública, qualquer movimento de transferência da responsabilidade da atividade regulatória do Estado para o mercado, através de mecanismos de autorregulação, e do Estado e do mercado para o cidadão, o consumo deste alimento deve necessariamente ser qualificado sob o risco de não representar solução para os problemas estruturais atuais. Em que pese a crescente participação da oferta do alimento importado, é nesta linha que uma solução apontada para estes conflitos estruturais entre recursos naturais e desempenho econômico vem sendo enfatizada: a segmentação em valor agregado baseada, de um lado, no beneficiamento e diversificação de alternativas de processamento industrial de poucas espécies a partir da criação de produtos mais elaborados ou pré-prontos e, de outro, na formação de um mercado de nichos do produto mais diversificado em espécies e in natura, com a implementação de processos de certificação socio-ambiental. Para alcançar estes objetivos, o pescado como bem não excludente e não rival deveria, em tese, passar a ser considerado nos instrumentos jurídicos que implicam na natureza das políticas públicas e nas dinâmicas econômicas como excludente e rival. 


• Para saber mais sobre o assunto, consulte o link: 


EMBRAPA - Genética de peixes (Material)

Olá pessoal, segue alguns materiais para quem deseja conhece sobre a genética de peixes. Um ótimo trabalho realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa.


Genética na piscicultura: marcação e coleta de amostras para análise de DNA.




Download Alternativo: AQUI.

Genética na piscicultura: importância da variabilidade genética, marcação e coleta para análise de DNA.




Download Alternativo: AQUI.

Riscos Genéticos da Produção de Híbridos de Peixes Nativos



Download Alternativo: AQUI.

Análise genética de peixes

Coleta de nadadeira - Foto: CHRISTOFOLETTI, Jefferson.

A Embrapa Pesca e Aquicultura oferece aos piscicultores brasileiros o serviço de análise genética de peixes, realizado por meio de duas práticas: a marcação dos peixes por tags (dispositivo de identificação e rastreamento) e a coleta de material biológico. 

I – A marcação mais indicada é através de tags, que podem ser inseridos no músculo ou na cavidade visceral do peixe por meio de uma seringa. Ests tags têm dimensões pequenas (do tamanho de um grão de arroz) e não precisam de bateria, proporcionando assim uma identificação segura e permanente para os criadores de peixes. 

II – Qualquer tecido pode ser utilizado para o estudo de DNA. Porém, com o intuito de não ferir o animal, o tecido sugerido para a coleta é a nadadeira caudal, de onde deve ser retirado um pequeno pedaço. 

Os seguintes procedimentos para a coleta devem ser seguidos: 

1. O produtor interessado deve entrar em contato com a Embrapa Pesca e Aquicultura, pelos telefones (63)3229-7800 ou (63)3229-7850, para solicitar o kit de análise genética e receber as instruções de como enviar o material coletado; 

2. Organizar todo o material a ser usado para a coleta (tubos, tesoura, pinça e planilhas); 

3. Identificar cada tubo escrevendo a lápis. Atenção: não utilizar caneta direto sobre o tubo, pois o álcool pode apagar a marcação; 

4. Cortar um pequeno pedaço de tecido da nadadeira caudal (preferencialmente) do peixe. O tamanho ideal do tecido deve ser em torno de 1,5 x 2 cm. Se o peixe for pequeno, a amostra poderá ser de tamanho menor; 

5. Colocar a amostra de nadadeira no tubo plástico contendo álcool comum de farmácia (92,8º). O álcool preserva o tecido e com ele o DNA. O material pode ser preservado à temperatura ambiente, mas será melhor se for mantido na geladeira. É fundamental que as amostras de tecido fiquem totalmente dentro do álcool e não fiquem expostas ao ar dentro do tubo.

Onde Encontrar:

Embrapa Pesca e Aquicultura
Quadra 104 Sul, Av. LO 1, N úmero 34, Conjunto 4, 1º e 2º pavimentos
Palmas, TO – Brasil – CEP 77020-020
Fone: +55 (63) 3229-7800 / +55(63)3229-7850

Fonte: www.embrapa.br.

Ideias de negócios SEBRAE - Como montar uma empresa de curtume de couro de peixe



Olá amigos e amigas, trago a vocês um ótimo material ofertado pela SEBRAE, para quem quer empreender na área de curtimento de pele de peixes.

Foto: a pele do Pirarucu (Arapaima Sp.) transformado em couro. Fonte: www.acritica.uol.com.br.

A seguir a apresentação do pequeno livro sobre "Ideias de Negócios: Como Montar uma Empresa de Curtume de Couro de Peixe".

O couro do peixe tem sido utilizado pela indústria da moda na fabricação de acessórios como bolsas, cintos, carteiras e sapatos.

Antes de conhecer este negócio, vale ressaltar que os tópicos a seguir não fazem parte de um Plano de Negócio e sim do perfil do ambiente no qual o empreendedor irá vislumbrar uma oportunidade de negócio como a descrita a seguir. O objetivo de todos os tópicos a seguir é desmistificar e dar uma visão geral de como um negócio se posiciona no mercado. Quais as variáveis que mais afetam este tipo de negócio? Como se comportam essas variáveis de mercado? Como levantar as informações necessárias para se tomar a iniciativa de empreender? 

A necessidade do aproveitamento integral dos subprodutos gerados pelo cultivo de peixes é crescente, principalmente devido à porcentagem elevada dos resíduos após filetagem que tem sido um problema para o produtor ou para o abatedouro (Contreras-Guzmán, 1994). E dentre esses resíduos está a pele como o principal subproduto. 

A fabricação e comercialização do couro de peixe é uma atividade que teve seu início na década de 70. Por se tratar de uma iniciativa voltada ao aproveitamento do rejeito da indústria pesqueira passou a chamar a atenção do mercado, principalmente aquele focado em produtos ecologicamente corretos. As peças feitas com a pele do animal ajudam a preservar o meio ambiente e são tão resistentes quanto o couro bovino (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil -CICB, 2010). 

A pele pode ser beneficiada e resultar em uma matéria-prima de qualidade e de aspecto peculiar inimitável, após o curtimento, devido à sua resistência e desenho formado na sua superfície, principalmente as peles de peixes com escamas. As características do produto obtido, como: a resistência da matéria- prima, suas características exóticas e sua aplicabilidade em vários produtos de alto valor agregado vêm despertando a curiosidade e o interesse de muitos empreendedores. 

Segundo Ingram e Dixon (1994), as peles de peixes são consideradas como um couro exótico e inovador, com aceitação geral em vários segmentos da confecção. A atividade vem sendo explorada comercialmente não só através de parcerias com as empresas de pesca, tanto as de água doce quanto salgada, mas também com cultivos de peixes espalhados pelo País. O mercado da moda já reconhece o valor e a importância do uso do couro de peixe na fabricação de acessórios como bolsas, cintos, carteiras e sapatos. 

importância dada ao uso de matérias-primas alternativas, com o apelo do politicamente correto”, torna a atividade econômica do curtume de couro de peixe inovadora e altamente promissora. 

Foto: Couro de Pirarucu sendo utilizado pela industria da moda.

Foto: Detalhe único observado no couro de peixes é o desenho, o que pode vária conforme espécie utilizada!

Nesta "Idéia de Negócio" serão apresentadas informações importantes para o empreendedor que tem intenção de abrir um curtume de couro de peixe. Entretanto, este documento não substitui o Plano de Negócios, que é imprescindível para iniciar um empreendimento com alta probabilidade de sucesso.

Download do material: www.sebrae.com.br ou

Caso tenha algum problema no link, baixe o livro AQUI no Blog.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2015