terça-feira, 8 de março de 2016

Pescadora baiana reergue cooperativa de pesca e vence prêmio nacional

Pescadora reergue cooperativa de pesca e vence prêmio nacional (Foto: Maria de Fátima/ Arquivo Pessoal).
A pescadora Maria de Fátima Freitas Paiva, 53 anos, ajudou a reestruturar uma cooperativa de pesca que ninguém mais na comunidade de Vera Cruz, região metropolitana de Salvador, acreditava que iria dar certo. Mesmo com muitas dificuldades no dia-a-dia, ela conta que nada fez com que desistisse da cooperativa Repescar, local para onde pescadores e marisqueiros levam todo peixe e ostra retirados do mar, para serem tratados e colocados à venda. 

Com o projeto, Maria de Fátima, que está a frente da Repescar, ganhou medalha de ouro na categoria Produtora Rural do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios deste ano. O projeto já conquistou inclusive o Prêmio de Competitividade para Micro e Pequenas Empresas (MPE Brasil), edição 2014. "Esses prêmios mudam a forma como nós somos vistos pelo cliente, passa maior credibilidade e é um incentivo para os cooperados", relata. 

Maria de Fátima conta que já vendeu gelo e até pegou dinheiro emprestado com amigos para poder pagar as contas de luz e água da sede da cooperativa. Relatou ainda que após comprar um terreno, precisou morar em uma barraca de acampamento para ficar mais próximo do espaço onde funcionava o projeto para os pescadores e, em seguida, construir uma casa. 

Por: Maria de Fátima (Foto: Maria de Fátima/ Arquivo Pessoal).
A cooperativa conta com 230 pessoas, e segundo Maria de Fátima, 90% dos cooperados, entre pescadores e marisqueiros, é formado por mulheres. 

Já na sede, trabalham 20 pessoas, sendo três homens e 17 mulheres. Eles fornecem peixe, siri e ostra tratadas para restaurantes de Salvador, além do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), do governo federal. "A Respescar é uma cooperativa que faz toda a manipulação e venda do pescado. É uma sensação tão boa ver um projeto que a gente lutou tanto dar certo e ganhar um prêmio. Não tenho nem palavras pra dizer o quanto estamos felizes", explica. 

Contudo, antes de virar referência em processamento de pescado na região, a cooperativa que surgiu em 2005 chegou a ficar sem condições financeiras para sobreviver, e foi a ação de Maria de Fátima e outros quatro pescadores que contribuiu para que o projeto continuasse. 

"Recebemos apoio privado, mas em seguida não conseguimos mais. Procuramos apoio em várias empresas, vendemos gelo nas festas e quando a gente precisava, pegava dinheiro emprestado com os amigos para pagar as contas de água e luz da cooperativa. Tivemos que resgatar os cooperados, fazer com que eles acreditassem que ia dar certo. Eu ficava até 15 dias fora de casa viajando para pedir apoio e nós conseguimos", relata Maria de Fátima. 

Segundo a pescadora, eles tinham todos os objetos para a pesca, mas a dificuldade estava na operação da sede da cooperativa, onde ficam a máquina de gelo e demais máquinas para separação e conservação dos mariscos. "Temos aqui algo muito semelhante a uma fábrica, e nada disso funcionava em 2005. As pessoas achavam que iria virar um elefante branco", conta a pescadora. 

Todos os trabalhadores da Repescar passaram por uma capacitação e conhecem todas as etapas de processamento dos produtos. Embora ocupe um cargo administrativo na cooperativa, a pesca ainda é um meio de sustento para Maria de Fátima e os demais pescadores da Repescar. 

A vida no mar 


Maria de Fátima durante a pescaria, na Bahia
(Foto: Maria de Fátima/ Arquivo Pessoal).
"Nasci e cresci em Salvador, mas nunca gostei muito daquilo lá [da cidade]. Meu pai tinha uma casa de veraneio na Ilha [de Itaparica] e a gente sempre ia para lá. Então desde pequena eu pesco com meu pai", revela Maria de Fátima. 

Ela conta que pesca há cerca de 22 anos, inicialmente para consumo próprio, depois para vendas. "Em 1990 eu me mudei para a Ilha [de Itaparica], em 1994 fui para Barra Grande e, nessa época, passei por dificuldade [financeira] e pesquei para comer mesmo. Já em 2000 fui para Ponta Grossa e lá comecei a pescar profissionalmente", contou. 

Maria é divorciada e tem três filhos. Todos eles, segundo conta, também gostam de pescar, mas nenhum deles participa da cooperativa, ou pesca como fonte de renda. "O menino que mora comigo vai pescar de madrugada. Meu outro filho gosta também e minha filha está morando em Pernambuco. Semana passada ela ligou e disse: 'Estou louca para ir para casa para comer nosso caranguejo, nosso sururu'. E ela que vai lá pegar, viu? Não sou eu não. Ela também gosta de pescar", orgulha-se Maria de Fátima. 


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