domingo, 21 de fevereiro de 2016

Sobre empregos no agronegócio

O que significa a queda de 1,1% no número
de vagas em trabalhos formais?. 
Foto: ANPr.
Rio Grande do Sul (RS) - A Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul, vinculada a falido governo estadual, concluiu que em 2015 o agronegócio brasileiro teve uma perda líquida de 46,1 mil vagas em trabalhos formais, incluídos os segmentos antes, dentro e depois da porteira.

Foram usadas informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), recolhidas do Ministério do Trabalho, que as compila desde 2007.
O ano passado revelou-se o pior da série, com uma perda de 1,1% sobre o total de 4,2 milhões de empregos formais.
A estratificação do emprego na atividade mostra o seguinte perfil: 6,1% antes (insumos, máquinas e implementos), 35,5% dentro (agropecuária e pesca), e 58,4% fora (alimentos, fumo, têxteis, couro, madeira, celulose e papel, biocombustíveis).
O primeiro segmento é de capital intensivo, altos investimentos, concentrado e constituído, na maioria, por empresas estrangeiras.
O terceiro, bastante diversificado, é o mais intensivo, tanto em capital como força de trabalho. Daí ser o mais representativo.
Resta-nos os campesinos, caboclos, sertanejos e ruralistas, em faixa enganosamente intermediária, quando assim classificados.
A atividade de cultivo em propriedades agrícolas tem características próprias, diferentes de serviços e indústria. Cíclica, sazonal, específica a cada cultura, dependente de condições edafoclimáticas, utiliza maior ou menor força de trabalho, em suas diferentes fases. Preparo, plantio, manejo e colheita.
Conforme a cultura e o tamanho da propriedade, podem ser menos ou mais dependentes de mão-de-obra, trocando-a pela mecanização. Nos últimos anos, têm sido significativas as inovações tecnológicas nessa direção.
A procura por alta produtividade com baixo custo tem inibido a contratação de empregados em base à atual legislação trabalhista, discussão que deveria estar na pauta dos poderes republicanos.
O grande contingente humano que trabalha no campo, no entanto, não vende ou aluga mais valia, como faz induzir a pesquisa e as fontes por ela sugeridas. É uma massa de patrões empregados de si mesmos e está no que se convencionou chamar de agricultura familiar.
Podem cultivar de chicória a soja que estarão inseridos no agronegócio. O mais é aflição léxica.
Agora uma surpresa trazida pela FEE. Em 2015, o segmento “dentro da porteira” segurou a barra do trabalho formal no agronegócio: foram criadas 10 mil vagas, compensando a perda nos outros dois setores.
Segundo o Censo Agropecuário 2006, velho, mas depois de 9 anos já não tão bom, existiam no Brasil 5,2 milhões de propriedades rurais, entre próprias, sem titulação definitiva, arrendadas, parcerias e ocupadas, o equivalente a 334 milhões de hectares.
É muita terra! Pois bem, os amigos leitores e leitoras devem imaginar pouca gente trabalhando em pecuária, pesca e aquicultura. Correto. Assim, cerca de 100 milhões de hectares eram usados para atividades agrícolas – lavouras, silvicultura, etc. Um terço da área total.
Do total de propriedades, 90% têm menos de 200 hectares, a maioria patrões de si mesmos, pois. Deveriam eles assinar a carteira de esposas, filhos, irmãos?
“Num dianta”, vocação é vocação. E se quiserem mudar isso vão ter que acertar mais no resto. Há 9 anos, tínhamos 5 milhões de proprietários rurais, produzindo dentro de chácaras, sítios e fazendas. Em 2015, foram 4,2 milhões de empregados em toda a cadeia do agronegócio.
Em capítulo que escrevi para o livro Caminhos da Sustentabilidade, sobre o trabalho rural, sugiro: “A transformação de que o campo necessita e que irá libertar parcelas de trabalhadores ou pequenos proprietários que ainda não alcançaram um nível de vida digno é essencialmente capitalista. Implica aproveitar nossa formação étnica, vocação agrícola transferida através de gerações, e o desenvolvimento tecnológico hoje alcançado”.
Queda de 1,1%, ora, ora. Como dizia o jornalista e escritor Ivan Lessa (1935-2012), um dos fundadores de O Pasquim, vão se roçar nas ostras ou enfurnar um robalo.
Nota: Por favor, a palavra enfurnar também pode ser interpretada como ocultar.

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