sábado, 26 de setembro de 2015

Lambaricultura - IV Curso de Reprodução Induzida e Técnicas de Cultivo do Lambari



A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo promove nos dias 1 e 2 de outubro o ‘IV Curso de Reprodução Induzida e Técnicas de Cultivo’, por meio da Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de Pirassununga e do Instituto de Pesca, ambos vinculados à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). Os pesquisadores Fábio Rosa Sussel (da UPD de Pirassununga) e Daniela Castellani (do Centro do Pescado Continental do Instituto de Pesca) coordenam o evento, que será realizado em Cachoeira de Emas, Pirassununga (SP). 

O curso visa à transferência de técnicas de reprodução induzida (hipofisação) e de cultivo (densidades, sistemas de produção, manejo alimentar, manejo sanitário etc.) do lambari, abordando também um tópico sobre produção integrada (sistema aquapônico) da espécie. 

Fábio Sussel explica que, com o crescimento da demanda por lambaris para a pesca esportiva, o setor produtivo apresenta dificuldade em termos de técnicas de cultivo e, especialmente, de reprodução do peixe. O curso destina-se, portanto, a atender a demandas emergentes de produtores aquícolas. 

Estima-se que a produção nacional de lambari totalize 140 milhões de unidades, por ano. São Paulo é o maior produtor, com 90 milhões por ano, seguido de Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Paraná. Praticamente 100% da produção são destinados ao mercado de isca-viva para pesca esportiva, atividade que vem crescendo nos últimos anos. “Apesar de, historicamente, os rios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul terem fama de piscosos, o grande mercado de pesca esportiva hoje encontra-se em São Paulo, especialmente daquela de corvina e tucunaré. Cerca de 70% da produção nacional de lambari são para abastecer o mercado paulista”, explica Sussel. 

De acordo com o pesquisador, o produtor de lambari recebe, na propriedade, cerca de R$ 170,00 por milheiro, sendo que o custo de produção é por volta de R$ 60,00. O intermediário revende para pousadas por R$ 250,00 a R$ 300,00, e as pousadas revendem para o pescador esportivo por R$ 500,00 (R$ 0,50 a unidade). Fábio Sussel diz ser notável a profissionalização dessa atividade nos transcorrer dos últimos cinco anos: “Sem qualquer receio, já é possível afirmar que a criação de lambari transformou-se em LAMBARICULTURA. Mesmo com o aumento expressivo da produção ano a ano, era impossível atender à demanda, já que a pesca esportiva cresce em grande velocidade. É comum faltar lambaris nas pousadas em feriados prolongados. Em 2015, com a elevação do nível dos reservatórios, a população de tucunaré e corvina será maior, o que certamente ocasionará a falta de lambari para a pesca esportiva”. 

O lambari também vem sendo amplamente utilizado em pesquisas científicas como modelo experimental, especialmente nas pesquisas relacionadas a reprodução, genética e ecotoxicologia. O uso do lambari no sistema aquapônico (produção integrada de peixes + hortaliças) é uma recente linha de estudos que pesquisadores da Apta estão avaliando. Os estudos com lambari neste sistema visam, especialmente, à vantagem estratégica em se trabalhar com uma espécie de ciclo curto. A tilápia, espécie de peixe comumente utilizada na aquaponia, possui um ciclo de produção de seis meses (alevino até adulto), enquanto que o ciclo do lambari é de dois meses (alevino até adulto). 

Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Arnaldo Jardim, faz-se necessário transferir conhecimento para o setor produtivo de modo que as produções sejam mais eficientes por conta da atual demanda. E, é neste sentido, que o governador Geraldo Alckmin se empenha na realização deste curso de transferência de tecnologia a piscicultores interessados com vistas à profissionalização da atividade. 

O curso compõe-se de 13 palestras ministradas por pesquisadores da Apta e do Instituto de Pesca, além de atividades práticas como seleção de matrizes, indução hormonal e técnicas de aquaponia. O endereço do evento é avenida Virgilio Baggio, 85, Cachoeira de Emas, Pirassununga. Mais informações, pelo telefone: (19) 3565-1200. 


Tecnologia inédita 


A demanda por lambari deve ser multiplicada por 12 em decorrência da utilização do peixe como engodo (atrativo) na pesca industrial de atum. Apesar de os barcos destinados à pesca do atum saírem de Santa Catarina, o Estado não produz a isca-viva devido à temperatura da água. São Paulo, então, terá papel fundamental, já que é detentor de 70% da produção brasileira de lambari. 

Durante o evento, o pesquisador Fábio Sussel apresentará a técnica de indução hormonal para reprodução do lambari. Com a técnica, o piscicultor pode aumentar em 80% sua produção, por conta da reprodução sincronizada dos peixes. De acordo com Sussel, a reprodução induzida já é utilizada desde a década de 1930, porém, para peixes maiores. “O que fizemos foi aperfeiçoá-la para os lambaris, que são bem menores. Isso tem um forte impacto neste momento de grande aumento da demanda como engodo (atrativo) para a pesca de atum”, afirma. 

Sussel explica que, tradicionalmente, a sardinha é utilizada para a pesca do atum, porém, estudos comprovam que o lambari é mais eficiente para a atividade. “Quando jogada ao mar, a sardinha possui a função de atrair os cardumes de atuns que se encontram em águas profundas. Porém, foi observado que o lambari se movimenta mais na superfície da água, o que acaba atraindo os atuns com mais eficiência”, diz ele. O pesquisador observa também que, mesmo sendo um peixe de água doce, o lambari não causa nenhum prejuízo ao ecossistema ao ser colocado no oceano, já que sobrevive por, no máximo, 30 minutos em água salgada. 

A temperatura ideal para o cultivo de lambari situa-se em torno de 26 ºC e os rios de Santa Catarina são mais frios. “Isso dificulta a produção no Estado. Dessa forma, São Paulo tem papel de destaque, já que lidera a produção do lambari. Mesmo assim, é preciso aumentar em muito nossa produção”, observa Sussel. Além de São Paulo, os Estados de Goiás e Mato Grosso do Sul também produzem o peixe. 

A técnica da indução consiste na aplicação de hormônios extraídos da hipófise de peixes (carpas). Entre outras funções fisiológicas junto ao sistema reprodutivo dos peixes, uma das principais vantagens da hipofisação é a sincronização da liberação dos gametas reprodutivos tanto dos machos quanto das fêmeas. De acordo com Sussel, sem essa técnica, cada lambari vai atingir sua maturidade sexual em uma época e os alevinos vão nascer de forma desordenada. Com isso, os peixes maiores podem comer os menores e causar um problema de logística, porque, na época em que se reproduzem, os produtores podem não ter tanques para colocá-los. 

De acordo com o especialista, a tecnologia é simples e barata e pode ser utilizada pelos pequenos piscicultores. “Para fazer a indução é necessário apenas uma incubadora, que custa em média R$ 900, e uma caixa de mil litros de água. Além de barato, é algo fácil de ser feito. Dessa forma, os pequenos produtores – que são os produtores do lambari – conseguem utilizá-la. A tecnologia pode ser adaptada em todas as regiões brasileiras onde se cultiva o lambari”, complementa Fábio Sussel. 


Importância atual do lambari 

Segundo a pesquisadora Daniela Castellani, o lambari é uma ótima complementação de renda para os produtores rurais que têm tanques em suas propriedades, especialmente pelo seu curto ciclo de produção. A safra do lambari é fechada em 13 semanas, enquanto a da tilápia demora até 28 semanas, ou seja, a produção do lambari garante maior fluxo de caixa durante o ano, porém requer alguns cuidados como a escolha dos locais para a escavação dos tanques, profundidade, qualidade e fluxo de água. “É importante que antes de começar a produzir, o produtor procure por cursos de capacitação ou por profissionais da área”, alerta a pesquisadora do Instituto de Pesca. 

“Além da pesca esportiva, o lambari também é vendido em bares e supermercados. Os peixes são comercializados quando atingem 10 cm. Para atender esse nicho de mercado, é preciso trabalhar melhor o processamento. Não temos hoje frigoríficos para processar o lambari. O processamento é feito de forma artesanal pelos próprios produtores ou pescadores”, comenta Daniela. 

Segundo os especialistas em aquicultura da Secretaria de Agricultura paulista, seria interessante que os produtores se organizassem em cooperativas para realizar um estudo de mercado com restaurantes e supermercados para avaliar a viabilidade da venda do produto fresco e congelado. Ao constatar essa demanda, eles poderiam pensar em uma planta de abate, levando em consideração a escala necessária.


Por: Fábio Rosa Sussel e Antonio Carlos Simões 

Assessoria de Imprensa 

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo 

Instituto de Pesca 
(19) 3565-1200 

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